sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Dia Zero


A cada Outubro consciencializa-se. Em muitos Outubros os resultados dão positivo. Em outros tantos Outubros dão negativo. A minha pergunta é simples: 
Quando depois do Outono vier o Inverno e estiver mesmo muito frio, podes gastar um minuto da tua chuveirada rápida para te tocares? Ou na Primavera, na preparação para aquele primeiro dia na praia, quando depilas as axilas, tocas-te? melhor ainda - já te tocaste hoje? 
A cada Outubro as campanhas relembram-nos que desde o ano anterior nem pensámos nisso, mas vá lá, faz-me a vontade, é mesmo importante e tu sabes isso. Cria um hábito diário. Lavas os dentes sempre, certo? Então toca-te. Ou deixa que te toquem, olha que é bom.

Hoje é o dia zero para quem passou os últimos a contar pelos dedos quantos faltariam para acabar o tratamento. Hoje é o exacto dia de celebrar um ano do diagnóstico. Ironias, e a melhor é: Hoje é dia de agradecer estar viva. 
Se todas (ou apenas uma de nós) no próximo ano evitar ter o ano que ela passou apenas com um toque, tocas-te? 
Estarás a esta hora de regresso a casa. O tratamento acabou. Dia Zero, minha querida, hoje páras o mundo e descansas com toda a serenidade, amanhã que já respiraste profundamente, outra nova fase cheia de energia e claridade. 
Sei que vais ter um fim-de-semana cheio, muito mimo, abraços, sorrisos. A cada um respondes com uma pergunta firme: já te tocaste hoje?



sábado, 10 de outubro de 2015

A reportagem da SIC

As crónicas que escrevi baseadas nos telefonemas com o Pedro Lapa, em que acompanhei o carro que veio de Aveiro durante a viagem de 8 mil quilómetros, não ficariam completas sem colocar aqui o vídeo com a reportagem da SIC assinada pela jornalista Teresa Conceição e pelo repórter de imagem João Fontes. 
A todos, todos, estou muito grata. Bem hajam! À família de Ali e Nada, toda a felicidade que desejamos às nossas próprias famílias.


domingo, 4 de outubro de 2015

Uma família com três meninas

Pedro, hoje não é necessário o telefone. E agora que todos já dormem, apetece-me escrever-te. 
Quando me contaste que a família que vinha tinha três meninas pequeninas, eu chorei. De tantas combinações possíveis, quais as probabilidades de ser a mesma que a tua? Todas. Seria a minha resposta agora. O universo dá umas respostas que nos desarmam, outras simplesmente nos fazem sorrir (ou chorar de alegria). 
O casal Ali e Nada e as suas três meninas não sabem falar português, mas sabem a palavra PORTUGAL, porque na sua terra portukal significa laranja. Fiquei feliz ao saber isso. Se fechar os olhos e pensar em laranjas sorrio: ocorre-me a cor linda e vibrante, e ainda antes o cheiro satisfeito da casca rugosa e até mais ainda, o doce sabor sumarento. Não é magnífico pensar que uma palavra que para mim é positiva noutra língua se diz como portugal? 
Ali é alfaiate. Venderam todos os seus bens, transformaram-nos em dinheiro e fugiram não do país que amam, mas de um destino que sabiam ser fatal. Já preparavam a saída da Síria quando souberam que, durante um ataque, o pai do Ali faleceu. Mais força tiveram para apertar as três meninas nos braços e fugirem. Agora em terra com nome de laranjas doces, a Nada soube que a mãe tinha falecido num outro ataque. Ainda assim, o olhar baixo e comedido, que tem é tenaz. A forma de cuidar das suas meninas é tão maternal como a minha ou a sua. O futuro são elas, o que ficou para trás, sabiam, estava perdido. 
Pedro, ouviste quando o Ali, ali em Belém disse um sentir que o arrepiava? Percebeu-se isso nos gestos, no olhar, na forma de apontar, e o tradutor explicou o que ele dizia: o Ali apontava para o céu e abraçava o seu próprio corpo e olhava para o céu de novo atemorizado. 

Como podemos entender o sentir de um sírio, nós que somos do povo de brandos costumes? O Ali falava que escutar o som dos aviões no céu o deixava em pânico. Claro. Lá de onde vem, lá de onde fugiu, um avião no céu é sempre para se despenhar, para espalhar o mal, é a morte do pai, é a vontade de pegar na família e numa mão cheia de quase nada e desaparecer. Tu Pedro, no teu tom muito sereno disseste-lhe em inglês 'next year' asseguraste-lhe que depois do próximo ano, viria um outro próximo ano, que depois viria um outro e que aí esqueceria o som dos aviões. Mas os teus olhos a encherem-se de lágrimas atraiçoaram a tua vontade de apagar esse mal que fizeram a esta gente. Oxalá um dia consigam esquecer, e se não conseguirem, que seja o som das gargalhadas das filhas que os faça sorrir.
Em Belém hoje ouviu-se muito o riso simples dos cachopos. Um esplendor de bolas de sabão no relvado e todas as emoções à solta quando um arco-íris redondinho nos rebentava na cara, refrescando até o sorriso dos adultos.


 As tuas três meninas, Pedro, e as três meninas do Ali e da Nada a esta hora dormem confortáveis e serenas, como todas as crianças do mundo deveriam poder dormir.
Tu Pedro, esta semana fizeste-me crescer. O que me relataste nos nossos telefonemas e como percepcionei o que estava a acontecer a cada momento, era com tamanha dádiva e amor pelo próximo que me fizeste sentir... Aiii, nem sei como alguma vez te poderei explicar como te estou grata. És uma pessoa muito linda, Pedro Lapa!!
E o que tu Pedro e todos vocês fizeram esta semana foi muito mais do que oito mil quilómetros e ajudar quem ajudaram. Falo de outra coisa, e não, nem vou referir como nos desassossegaram o coração. O que todos vocês fizeram foi demonstrar a quem quiser ter a largueza de alma para o assimilar, que cada um de nós pode mexer as peças deste imenso xadrez, cada um de nós pode fazer a diferença, cada um de nós pode e deve sonhar, mas mais além pode fazer acontecer, e quando muitos querem e fazem o mesmo... o mundo pula e avança, e o resto já o sabemos: como uma simples bola de sabão arco-íris nas mãos de muitas das nossas crianças.



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

é só uma família

A passagem da fronteira de Áustria para Itália foi tensa. A nossa caravana foi parada primeiro por causa de uma vinheta, e no outro carro, documentos. Burocracias, mas a evidência estava ali.
três crianças, um pai uma mãe. uma família como as nossas. o polícia reclamou, argumentou e a tudo foi respondido. um dos elementos da caravana (obrigadaaaa!!!) foi essencial na contra-argumentação. o polícia dizia mas a estação está cheia deles... e com muito amor foi-lhe explicado que estavam apenas a salvar umas vidas, estas vidas, pediram para olhar para eles todos, fizeram-no pensar que tinha uma família idêntica em casa e o argumento chave foi: "é só uma família!" vamos ajudá-los estamos aqui por eles, estamos a salvar uma só família dos muitos que estão na estação... é sóóóó uma família!


o senhor polícia em algum momento esqueceu a farda e ouviu o coração. (bem haja por isso!!!!)
a nossa caravana está a caminho e está tudo bem. agora neste momento estão todos bem. a caravana e a família como nós. 
acreditam em Deus, o Deus que seja? peço-vos. rezem para que cheguem cá bem. só isso.

N.B. - como bem sabem, não sou nem tenho pretensões a jornalista. como poderia dizer o outro, eu é mais livros eheh então por favor sigam por este link a notícia com os detalhes todos com quem a deve contar: a nossa querida Rosa Ruela, a jornalista da Revista Visão que acompanha a caravana desde o momento Zero.


uma coisa, antes que ligues

Antes que telefones, queria dizer uma coisa. 
Pedro, queria escrever um texto positivo, gostaria tanto que me relatasses cenários diferentes, mas sei, sabemos, que não seriam reais, não o que milhares de pessoas estão a viver a cada preciso momento que todos respiramos, estão privadas da sua liberdade, da sua dignidade, do que todos nós deveríamos ter por direito, assim o afirmam tantos papéis em gabinetes, fechados em gavetas e em quadros decorados pendurados pelas paredes. onde fica a acção real? saber que tantas crianças, famílias - as inteiras e as desfeitas - as que me contas ao telefone, as que os teus companheiros de viagem, um filmou, outro falou à rádio, outra publicou na revista, outro fotografa de modo tão tocante, todos partilham o seu olhar pungente do que têm observado - e mais - do que aí têm efectivamente feito, para que todos, todos nós que estamos de olhos postos na vossa viagem, nós que vos escutamos siderados e de coração nas mãos, façamos por fim, unidos, movidos pela mesma vontade de fazer algo mais que os gabinetes permitem, como dizem - até ver. 
Pedro, na estação de Viena de Áustria, aí onde a clausura acaba e o nada acontece, este 'até ver' magoa-me os sentidos, porque enquanto durar um até ver cinzento de gabinete, tu observas a criança que viste urinar-se pelas pernas abaixo porque nem casa de banho tem para ir.
E antes que ligues, porque não vais ter uma coisa bonita para me contar para eu escrever, deixa-me dizer-te: as crianças, sendo que são o futuro da humanidade, estas crianças todas - as nossas no conforto das suas casas e escolas, das que vêem imagens na net e tv e fazem perguntas, daquelas bem incómodas que fazem os pais rolar os ditos cujos no sofá e chutar para canto mudando para o canal infantil, às que estão informadas porque os pais escolhem explicar, até às ao outro lado da Europa, as que tens visto, conversado, relatado, e ainda às que guardas contigo e (ainda) não conseguiste partilhar, tudo o que estas crianças todas estão a viver as faz crescer num sentido diferente de outras gerações.
E quero muito acreditar que não será só na próxima geração, caramba!, estes pais não carregaram os seus filhos, se fizeram à estrada, e mais ainda mar adentro, por outro motivo se não o de acreditarem, na Esperança que na outra margem da vida, ela aconteceria. Como na música do Rodrigo Leão - coeur, fais ton chemin, l'amour est beau, il est partout, rêver sourtout. 
Eu quero acreditar que todo este adiar de até ver e inconseguimentos perpétuos não vão manchar o Sonho. o poeta não dizia que é assim que o mundo pula e avança?
E Pedro, deixa-me ainda dizer-te, já que estás quase a ligar-me, que temos visto acontecer uma coisa linda com toda a movimentação da vossa viagem. É um acordar... olha, é como lhe queiram chamar! Eu? escolhi chamar-lhe simplesmente de AMOR. e está a acontecer! é este despertar de consciências, este levantar o cu do sofá e 'bora lá! que está a suceder à nossa volta num momento paralelo ao de guerrilhas em campanhas eleitorais esvaziadas de sentido, é um toque arrebatado a reunir, um dar as mãos, e já nem é o embora fazer, mas o estamos a fazer!!! está a acontecer, vejo e leio um bocadinho por todo o nosso Portugal. e é tão bonito, tão comovente!!! somos um país de brandos costumes? sim, seremos, mas somos gente aguerrida e sã, generosa, voluntariosa e muito, muito hospitaleira. 
Pedro a todos e todas vós que embarcaram com o Nuno Felix nesta viagem, estou-vos tão grata!!! 
O meu telefone toca. 
- Olá! 'tás bem? Eu 'tou bem. Muito rápido.


Se quiser e puder, ajude nos custos da viagem do carro do Pedro Lapa pelo
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Grata e bem hajam!!! 


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Um triste espectáculo

estou numa estação de comboios de Viena Áustria, ando aqui às voltas a observar, nem imaginas, a quantidade de pessoas que estão a viver aqui. A viver como!? pergunto admirada. A viver, Ana. trouxeram-nos para aqui e não têm rumo, nem para onde ir, não lhes dão autorizações, não há respostas institucionais nem oficiais, então... ahhh estão por todos os cantos, famílias inteiras, com velhotes, com crianças, olha lá ao fundo improvisaram uma creche, e ali do outro lado umas pessoas com coletes daqueles fluorescentes colaram uma coisa por cima e são portanto algo como uma organização e estão noutro canto a ajudar, a distribuir coisas. assim, sem jeito nenhum... andei às voltas e estou aparvalhado com o que vi, vou desligar e tirar fotos para tu veres que nem sei como te descrever... olha, sei. estive aqui de um lado para o outro e a assistir a um triste espectáculo, é esse o nó no estômago com que estou, "a desumanização da humanidade", olha para o que eu estava guardado!... na verdade nem tenho vontade de tirar fotos, dói-me estas pessoas que todos nós abandonamos em qualquer canto como se a humanidade não fosse toda una. que futuro espera esta gente, nos espera a nós? que rumo tá este mundo desumanizado a tomar?
falamos mais logo,  um beijo. 









Opatovac, hoje.

Olá, 'tás bem? Eu 'tou bem. Muito rápido.
Olhando para trás, não foi só hoje, acho que todos os nossos telefonemas destes dias começaram assim. conversas muito curtas, mas intensas.
Hoje foi, de todos, o dia mais poderoso.
campo de refugiados de Opatovac.












Hoje não falei só com o Pedro ao telefone. muitas foram as pessoas que me contactaram, detalhes que acrescentaram que me fizeram sorrir e chorar. li o que outros elementos da caravana escreveram, filmes e fotos que conseguiram fazer e publicar à revelia das autoridades. Opatovac é um campo militarizado, fotos é algo absolutamente proibido e contudo, temos as nossas redes sociais inundadas, partilhadas e multiplicadas, das que a nossa gente conseguiu mostrar-nos - porque mostraram ao mundo. ouvimos as vozes deles emocionados a comentar in loco nos filmes que fizeram, ali onde estavam, mesmo na parte de cima do campo onde chegam as pessoas. viram autocarros só com crianças a chegarem, sem famílias, bebés de dois, três anos, filhos como os nossos, ali sozinhos, descalços ou mal agasalhados. e, num momento, conseguem filmar uma chegada, contam-nos emocionados das crianças a saírem de uma carrinha celular vestidas de sacos de plástico azul, alguns meninos de calções e sandálias com o frio que lá faz... e faz tanto!!!, mulheres e crianças, tinha essa carrinha sem lugares, sem janelas, sem condições.
viu esse vídeo até ao fim? (eu confesso, ainda estou presa às sandálias e calções...) e a quantidade de pessoas que saíram de lá de dentro?
os nossos portugueses transportaram com eles, de cá, cadeirinhas para poder trazer crianças em conforto e segurança, e estes meninos? como viajaram naquela carrinha celular? este transporte nós vimos, porque os nossos o filmaram. quantas mais pessoas viajaram nesta falta de respeito humano? milhares, dezenas de milhares, pelo tamanho de tirar o fôlego só deste campo. existe uma palavra em inglês que não sai do rodapé da minha cabeça hoje: overwhelming - é tão abrangentemente esmagador que tenho dificuldade em descrever o que nem consigo abarcar. e sabia. o Pedro Lapa estaria demasiado overwhelmed para me fazer a chamada telefónica seguinte à que falei no texto anterior.
Mas o telefone tocou. tás bem? pergunta de novo. Entrámos, Ana, disse-me, mais do que uma só vez, entrámos num campo que nos disseram que não conseguiríamos!, demos tudo o que trouxemos de Portugal e as necessidades são tão, tão prementes que não conseguimos ficar simplesmente a olhar. parte do nosso grupo rumou aos supermercados, e com o dinheiro dos donativos do crowdfunding trouxeram mais botas e agasalhos impermeáveis, roupas de bebé e nós voltámos a entrar. Pedro, e fotos?, pergunto inocentemente, ainda sem me aperceber completamente do dia que tiveram, não tenho fotos, Ana, decidi não tirar. responde-me. faz uma imagem, com sombras, sugere-me, e põe uma legenda, e descreve-me a legenda (que podem ver na imagem acima). e continua - depois, eram bebés a chegar, e sem roupa... comprou-se roupa de bebé dos zero aos três, sabes? um bebé tem de estar quentinho! tantas, tantas roupinhas pequeninas de bebé de colo... muitas botas, luvas, gorros, casacos e distribuímos tudo, foi maravilhoso ver a carinha das pessoas, das crianças, receberem roupas ainda com as etiquetas, novas! não ser algo usado, o que elevou a auto-estima de saberem que alguém os estima. vestirem-nas de imediato, a Vera só dizia "continuem a sonhar" e abriam um sorriso daqueles, naqueles rostos que só diziam exaustão. "existe muita gente com vocês". e os bebés?, entregarmos à senhora simpática da Unicef botinhas de lã, roupinhas agasalhos, tantas, tantas, não tens noção, foram duas monovolumes aos supermercados e voltaram cheias até cima!!, gastou-se tudo, tudo, mas tínhamos de o fazer, quem sabe um par de botas ou um casaco quentinho só faz diferença, as salva da hipotermia...
Eu sei que hoje vou dormir (dormirei?) mais tranquila por saber que a boa vontade desta nossa gente sã calçou e vestiu tanta, mas tanta pessoa que com o frio que lá faz - e não é o nosso frio, não canso de o repetir - está descalça, encharcada e enlameada. não estão mais. já não estão, não as centenas que esta malta ajudou. serão poucos/muitos para quem os nossos portugueses conseguiram deixar uma marca nas suas vidas. Tiveram a coragem de se levantarem do sofá atravessar a Europa e simplesmente fazer o bem e é tudo isto, por tudo isso,  que me enchem a alma. quando me deitar logo e tiver os pés gelados, eu tenho uma manta para me enroscar, você que me lê terá a sua e ainda um par de meias quentes, ou uma gaveta cheia delas. podemos dizer o mesmo de todas aquelas pessoas naquele campo, nos outros campos? aquelas muitas/poucas pessoas que a malta da nossa caravana ajudou, tão pouco que fizeram do muito que quereriam poder ter feito, esfregar de forma mágica o narizinho e nada disto ter sequer acontecido a estas famílias? isso não podem, mas o que puderam, fizeram. e para mim, para si que me lê, para os poucos/muitos tocaram num ínfimo ponto da alma. e caramba, se isto não é mudar o mundo, não sei o que seja. Bem hajam, malta linda!!! Que orgulho, que enorme orgulho tenho em todos vós!!! 
Não podem trazer refugiados? pois, porque não vão trazer ninguém. sabia-se que esse cenário poderia acontecer, mas entregaram em mãos o que daqui levaram. e o que lá compraram com a ajuda de tantos de nós. esse era um dos objectivos desta viagem. os nossos portugueses a esta hora que escrevo, estão exauridos, cheios de emoções publicam no facebook fiapos de sentires que nem conseguem descrever, choram ao telefone com os familiares e amigos de tanto que viram e jamais vão, poderão esquecer. 

Ouvi um polícia, sabes, Ana? daqueles fortes, preparados, responder a um de nós que lhe perguntou: como é estar aqui? e ele disse - no primeiro dia foi difícil, agora tenho a cabeça vazia. vejo chegar crianças sem sapatos, sem calças nem nada que as agasalhe, vejo e estou aqui sem fazer nada. e, assim do nada, começa a chorar e sai de perto de nós. e Ana, é um profissional treinado para estes embates psicológicos, mas isto aqui é tão forte, desumano...
A polícia lá, contou-me depois noutra conversa, apesar de toda a posição de força que mantêm, é constituída por... pessoas como nós. e não conseguem resistir-lhes, e porquê? porque são pais, são também famílias como as deles que vêm passar na sua frente, é a uma menina que se desequilibra eles estendem a mão, é os que ajudam a sair das viatura altas, é quando se baixam da sua postura militar e levantam do chão uma sacola de pertences que caiu e entregam na mão, sim acredito que com um enternecido sorriso. Fazem o que podem, Ana.

A um senhor da Cáritas perguntávamos o mesmo e disse-nos: nunca estamos mais de cinco dias e levantando a ponta da camisola, revela-nos: dentro da bolsa à cintura, uma lamela de comprimidos. só assim se aguenta, confessa-nos.
Para que o Pedro não desabasse, mudei de tom e pergunto-lhe: tens algum episódio diferente, engraçado, vá? pensa um instante e com voz sorridente conta: por acaso tenho. Há pouco, após se ter entregue todos os agasalhos e botas... faz uma pausa e diz num tom agastado, e eram tantos [os agasalhos] e eram tão poucos [os agasalhos], sabes? e continua atropelando-se nas histórias que quer contar rapidamente. é que tinha acabado de chegar mais um autocarro de bebés pequeninos e o Manzana estava tão perdido nos pensamentos, mais bebés sem roupa, estava mesmo desalentado... - Manzarra. corrijo eu. - Oiço-o sorrir ternamente. É um porreiraço, sabes? continua o Pedro naquele afã de me contar tudo em pouco tempo, eu nem sabia quem ele era... estava mesmo transtornado, tanta gente ainda por ajudar e não havia mais botinhas, e ele queria tanto poder voltar a sair do campo e voltar aos supermercados e calçar estes todos que chegaram, não tens noção do impacto que é em nós acabarmos de distribuir tanto tanto e ser tão pouco... e não podíamos fazer mais. então o Manzarra e eu caminhávamos juntos, ao lado de uma fila masculina de refugiados, porque... Ana, deram-nos liberdade de percorrer o campo todo e é imenso!!! cada vez maior a cada vez que chegam milhares de pessoas reestruturam tudo, buldozers a fazerem terraplanagens, acomodar mais pessoas (suspira) aqui estão a fazer tudo o que é possível fazer, e não é tarefa fácil, ficámos muito cientes disso, há tanto tanto para ser feito, é insano!!
Mas quero contava-te do episódio engraçado. caminhávamos juntos, ao lado uma fila masculina de refugiados, ele estava tão perturbado por termos visto chegar mais bebés sem agasalhos que sem se dar conta foi acelerando pela lama sem saber o que fazer, e eu atrás dele, disse-lhe, anda lá mais devagar, pá, quando um polícia o manda parar: STOP!! o Manzarra estacou momentaneamente desconcertado. o polícia estava a fazer-lhe sinal para ele ir para o final da fila dos homens. Ana, tive de sorrir, sabes? dei-me conta naquele momento: estávamos cheios de lama, pés, pernas, todos ensopados da chuva que não pára, ele tinha o casaco fechado, com o gorro na cabeça, imbuído nos seus pensamentos caminhava apressado e desalentado tentava buscar uma solução. era apenas mais um refugiado para o polícia!! fui eu que respondi ao polícia, SOMOS DE PORTUGAL! ESTAMOS AQUI PARA AJUDAR! e num Ahhh! acenando, mandou-nos seguir. - Os portugueses são credíveis assim? pergunto ainda admirada por sequer o ter questionado, - somos sim, nem imaginas como, continua o Pedro.

Puderam andar pelo campo todo - cá em cima na entrada até lá em baixo no vale, Ana, andámos por todo o lado - Puderam dar(-se), conversar, ajudar, ver e absorver toda a premência da ajuda humanitária que tarda em chegar - de cada vez que chegam refugiados, são muitas pessoas, muitas dezenas, muitas, mesmo muitas centenas. têm uma tenda na entrada com uma mesa imensa, têm sempre comida na mesa, para que, quem chega, ter uma primeira refeição. E é isso, também me tocaram as pessoas no terreno a trabalharem, é o polícia que ajuda a amparar um braço, é o sorriso bonito e a palavra de conforto que não falta... é Ana, eles estão a fazer o que podem, e quem está no terreno hoje, (apesar de à noite para fecharem os olhos terem de tomar um comprimido para não pensarem, sonharem), também são pessoas que têm famílias como estas, famílias como as nossas.


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terça-feira, 29 de setembro de 2015

os brinquedos da caravana do A.M.O.R.

Mário? diz à Madalena que o ursinho Winnie the Pooh foi entregue!!! 
os três elementos do carro que veio de Aveiro, Pedro, Vera e Carolina conseguiram entrar no campo de refugiados. e entregaram, entregaram, entregaram. agasalhos, roupas, comida, abraços, amor. os elementos que não conseguiram entrar voltaram aos supermercados, gastaram tudo o que tinham, compraram todas as botas, estas pessoas como nós estão sem calçado e está tanto frio com meia térmicas e botas de montanha...
é crianças por todo o lado, mães que procuram filhos pais que choram, famílias desencontradas, um horror sem palavras possíveis de encontrar. tanto amor por viver, para quê?
agora já saímos, estou cá fora a telefonar-te que não tive coragem lá dentro. eu sei, respondes-me, vi nas publicações dos outros e percebi-te. olha vou desligar, vamos de novo a outros supermercados comprar mais botas e casacos e voltar a entrar, vamos fazer isto o dia todo, enquanto der. mas antes de desligar, tenho de te contar isto: a ver se consigo....

e o ursinho, Vera? não te esqueças do ursinho... espera, a Carolina voltou atrás e foi buscá-lo, duas crianças de cinco e seis anos abeiraram-se de nós os três e a Carolina baixou-se, pôs o Winnie the Pooh nas mãos dela, e naquele momento, doía-me tanto os olhos das lágrimas que só conseguia ver estrelinhas, aquele sorriso que me está gravado nos ossos... acho que por uns momentos nem frio tinha. ao lado o menino de cinco, seria o irmão? era apenas uma criança síria de olhos enormes. meti a mão ao bolso e tirei o meu talismã na viagem, o brinquedo que o teu Pedro Lapeira me mandou para dar a um menino sírio. claro, quem o conhece... um carrinho!, uma pão-de-forma amarela com os desenhos de paz e amor. olha... acocorei-me e estendi o carrinho ao menino. avançou sem medo e ahhhhh... repetia em inglês thank you, thank you, thank you, thank you, thank you, mas tantas vezes, saltitava de felicidade, estava tão lindo! é tão simples, tão simples fazer uma criança sorrir, porque é que os crescidos complicam tanto?

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Está escuro

Vim cá para fora telefonar. Está um frio húmido, tenho roupa suficiente e ainda assim gelo. Vou para o carro e faço a chamada. Temos falado sempre a correr, mas hoje preciso contar-lhe. 
Eu vejo-os. 
Estamos num armazém ou antigo stand de carros em que a parte de cima é um hotel improvisado, à volta os campos estão cultivados, árvores ao fundo, a terra é bonita, penso, enquanto enrolo um cigarro. Anoiteceu e o frio é imenso. Fecho o casaco com um arrepio. Mesmo com o lume momentâneo de acender o cigarro, constato como se pôs tão escuro.
É quando as sombras mais melancólicas os encobrem. Estão por todo o lado, sabes? Ali, debaixo daquela árvore desalumiada. Será que estão abrigados da inclemente chuva?, é tão intensa e fria, muito fria. Cabisbaixos, cobertos com uma manta sem ser impermeável, estará encharcada certamente, e sob o esmagador peso da morrinha contínua, como podem estar agasalhados naquela escuridão? Mais além, vejo-os ensopados, enregelados, entorpecidos, enlaçados. Acolá, com crianças ao colo avançam em silêncio, os pés a enterrarem-se na lama pisoteada dos campos outrora cultivados. Tropeçam, caem, rastejam, reerguem-se. Sinto-os, descalços a avançarem, e o frio? É terrível, nem no nosso Inverno está frio como está hoje e nem Inverno é ainda! Vejo-os a arrastarem os poucos pertences que trouxeram, as mochilas com bens básicos que lhes deram lá atrás, toda a vida debaixo de um braço. E o frio húmido que me gela apesar da minha roupa polar, quente, seca, confortavelmente sentado ao volante do meu carro estacionado enquanto telefono. Temos de desligar, dentro de cinco segundos já vai para trinta euros, isto é horrivelmente caro, e incapaz de desligar, continuo. Semicerro o olhar para tentar vislumbrar no negrume da noite. Estão aqui, em todas as bermas, constato-o. Parece mesmo que os vejo, tão presentes estão por todos os recantos escuros. Aperto no peito que dói mais que a asma, não há remédio que alivie o que os meus olhos parecem ver emergir à minha volta, como a minha alma os sente. O som dos passos descompassados, ritmos e energias diferentes emergidas num deslaçar desconectado, olhares que percepciono esvaziados. Onde ficou o sonho? E contudo caminham. Vêem em cada fronteira o eldourado. Estugam o passo, afobam-se e o arame em rolos. Enlaçam mais o filho no colo. Porquê o arame?

Não tarda amanhece, vais ter um dia cheio de luz, lembra-me ela. E olha, vamos desligar, insiste, é muito dinheiro. Não consigo, deixa-me contar-te, digo. E escreve, peço-lhe. Escrevo sim, diz, vou ser os teus olhos, a tua voz, o teu coração, garante-me. Em breve amanhece, reafirma, vão ter um dia bom!

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Vera, a co-piloto de Aveiro

Todos  os que estávamos na quinta-feira de madrugada no grupo de facebook Famílias como as nossas assistimos ao momento em que o Pedro Lapa deixou em aberto o lugar de co-piloto, porque ele, o condutor no carro que viria de Aveiro, pretendia fazer a viagem com companhia. Já o afirmei, queria mesmo muito ter sido eu. Fiquei, e decidimos que escreveria. 
Uma amiga comum sugeriu no grupo o contacto da Vera Valério Batista (também é de Aveiro), queria ir como voluntária, que o iria contactar, mas nesse preciso momento (para quem estava em directo online não tinha como saber), já se tinham adicionado e nessa altura já estavam os dois a conversar no chat a combinar a ida no dia seguinte. Simples, do nada. O Pedro anuncia no grupo que já tinha co-piloto. E foram. Já sabem: é para ajudar, é pelas pessoas.  

A Vera é enfermeira. Chegou cheia de sacos e embalagens. Medicamentos e material que poderia vir a ser necessário. Pensou em tudo, em muitos cenários. Simples, prática e sorridente. 
Uma amiga da Vera também foi ao jardim de Belém despedir-se, levou sacos de bens essenciais e também uma echarpe e um anel de talismã. 
O Pedro explicou-lhes que eu iria escrever sobre a viagem, que usaria as fotos e a amiga da Vera escolheu manter-se anónima, pelo que lhe assegurei recorrer ao efeito de mosaico no rosto. Já depois dessas fotos, na boa onda da brincadeira que se instalou, tiramos também a foto oficial de 'não dar a cara'.




Logo na viagem de Aveiro para Lisboa a Vera assegurou o volante e o Pedro arrochou. Fiquei muito grata. O Pedro no afã dos mil preparativos da viagem e de deixar planeado refeições e toda a logística para o bem estar da família, mal dormira. E não foi só isso... o papel de uma co-piloto num carro sem GPS nem net no estrangeiro é bastante importante, fundamental! E depois a Vera é naturalmente simpática, conversadora e a longa viagem ficou muito mais animada quando se partilha, se canta e até se dança!! 


Em Madrid entrou mais uma pessoa para o carro que veio de Aveiro. Três a bordo, o mesmo propósito: ajudar quem nada tem. 
Foi um fim-de-semana duro, mal dormido, imensos quilómetros e muitas mais decisões a tomar. 










Segunda-feira já acordam em Liubliana, na Eslovénia. Tudo está em cima da mesa. O dia começa, os contactos estabelecem-se e todos nós de olhos postos nestas famílias como as nossas. Sabemos que farão o melhor!
Vera... obrigada por tudo minha querida!!

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domingo, 27 de setembro de 2015

Paris pode esperar

Assim é o Pedro Lapa.
Há anos que as meninas pedem para ir a Paris e Londres, talvez por conta dos livros e filmes que vêem, mas a vida não dá para isso, não dá para tantas solicitações e umas vão sendo preteridas, outras escolhidas, vividas intensamente, saboreadas até à última migalha. São três as meninas, três filhas maravilhosas que o amam e têm tanto por onde se sentirem gratas e orgulhosas do pai que têm.
Ainda outro dia, num jantar de amigos surgiu um apelativo convite, uma viagem, passear, férias. Confidenciava-me: "Mas se não consigo viajar sem elas...!" em cada acção da sua vida este pai põe as suas filhas na frente. "As meninas ainda não andaram de avião e agora vou eu...?" de cada vez que serve a refeição que cozinhou, este pai comove-me com um gesto que não via deste a infância. a minha avó Rosa fazia-o e nunca mais vi ninguém fazer. até ao Pedro. este pai sempre põe mais quantidade de comida nos pratos das filhas que no seu próprio. "Então eu não vou com as cachopas a Paris nem a Londres e vou acudir as pessoas que precisam?" e foi.
Sim, este é o Pedro.

Se quiser e puder, ajude nos custos da viagem do carro do Pedro Lapa pelo
NIB 0035 0836 0069 2517 3302 6
Grata e bem hajam!!! 




sábado, 26 de setembro de 2015

O carro que veio de Aveiro

Já me tinha despedido do Pedro em Aveiro, mas ficar sentada a assistir à sua partida pela net e tv era impensável. Desafiei o Mário, um amigo nosso, e fomos ao encontro do Pedro Lapa no ponto de encontro da caravana, nos jardins em Belém. Tínhamos de o acompanhar, levar algumas coisas, tinha... mais um abraço. 
Como nós, muitas foram as pessoas que chegaram de porta-bagagens cheios de caixas e sacos. Agasalhos, mantimentos, brinquedos, cadeirinhas de bebé. Sim. As famílias que trarão têm filhos como nós, e é necessário transportá-las em segurança de volta, a casa, às suas novas vidas.
Os dois amigos Nuno Félix e Pedro Policarpo desconheciam quantos carros integrariam a caravana das pessoas que demonstraram intenção de os acompanhar.
Seis carros, os que partiram de Belém. Acredito que dentro de cada carro haja uma história para contar. Eu vou focar-me na do carro que veio de Aveiro.
Condutores, co-pilotos e todo o espaço das seis monovolumes preenchidos pelos inúmeros sacos e caixas, dádivas de tanta voz anónima que se juntou nesta onda maravilhosamente comovente.
Abdul Wahid foi uma das pessoas que apareceu. As mãos cheias de sacos que generosamente distribuiu, um por cada condutor. Sacos repletos de comida bem acondicionada do seu restaurante Zaafran no Largo D. Estefânia em Lisboa.
O Pedro é vegetariano e assim que o Abdul o percebeu, imediatamente teve o cuidado de trocar, de todos
os sacos que levou a mais, refazendo ali o saco do Pedro para todas as opções veggie.
A comunicação social esteve presente. Foi filmando e fotografando em diversos ângulos e olhares o momento sereno e emocionante que antecedeu a partida da caravana.
Na despedida o imenso orgulho de familiares, amigos e pessoas que quiseram simplesmente felicitar esta gente sã que partia para o outro lado da Europa, traziam tanto amor no olhar, nos gestos, nas palavras que disseram, nas que ficaram por dizer... comoveram-me.
A Revista Visão acompanhará a caravana do princípio ao fim, com a jornalista Rosa Ruela e o repórter de imagem Tiago Miranda, fazendo uma fascinante reportagem em directo do carro do Nuno Félix ler aqui as primeiras impressões  que foram logo publicadas. 
Também a SIC apareceu com um carro reportagem, incorporando a caravana todo o percurso de ida e volta, com a jornalista Teresa Conceição e o repórter de imagem João Fontes que, contaram-me, guardarão os conteúdos e a reportagem surgirá depois.
No fim.

Devo confessar - antes de terminar este texto de hoje - que fui eu que ajeitei o Winnie de Pooh na janela do carro do Pedro com o simples intuito de ficar giro para bater esta foto porque a quero mostrar à Madalena, (a filha mais nova do nosso amigo Mário), que ofereceu dos seus brinquedos, para os meninos que não têm nada. Era uma coisa simples, mas num ápice todos os repórteres de imagem viram a mesma 'coisinha fofa' e o ursinho de peluche da Madalena foi amplamente filmado e fotografado, apresentado em todos os telejornais, até roçou o exagero quando a chamaram de 'imagem da noite'.


Para mim, a imagem que retenho como 'a da noite', foi o Pedro a recusar com tanta serenidade, a jornalista após jornalista, contar a sua história, explicar porque veio de Aveiro, porque isto ou aquilo, apenas porque o fez pelas pessoas... 
E o momento da noite deu-se. 
A uma jornalista mais respondia no seu tom de voz pausadamente sereno e pleno de amor, explicava que o enfoque seria para quem teve a ideia, o Nuno Félix e o Pedro Policarpo, ele era só um carro mais, que o fazia apenas pelas pessoas, e para poder salvar apenas mais uma família, e quando olho para a senhora jornalista a fazer um esforço imenso para não chorar com as palavras que ele proferia para explicar a sua recusa em dar a cara, os gestos calmos, o olhar imenso... abeirei-me dela e disse baixinho enquanto o Pedro falava: "ele provoca mesmo esse efeito nas pessoas." O Pedro parou imediatamente de falar e foi quando ela começou, já com as lágrimas não contidas pela cara: "É isso mesmo! Há pessoas que são tão extraordinárias que as percebemos sem precisarem dizer nada......" 
Foi tão lindo esse momento e a conversa aconteceu. Sem gravador. O Pedro falou. E a senhora, a vir a escrever alguma coisa, sei que o fará de uma forma iluminada. 

Se quiser e puder, ajude nos custos da viagem do carro do Pedro Lapa pelo
NIB 0035 0836 0069 2517 3302 6 
Bem hajam!!! 



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