domingo, 18 de novembro de 2012

Estaremos todos a mentir?

Dentro de dias vai sair uma reportagem na revista Visão que hesitei em colaborar 'dando a cara'. Na verdade é um tema a que tenho dado bastante tempo de reflexão e de observação. 
Estaremos todos a mentir? 
Numa ida ao supermercado reparo discretamente naquela mãe que cala um surdo NÃO de olhos bem abertos ao filho que pede algo que o ano passado exigia (e tinha) sem pejo. 
Na senhora que no cesto tem apenas pão, manteiga e um saco com duas laranjas e mantém a pose na fila da caixa de um carro cheio. 
Nas mãos da outra senhora de mais idade com apenas um pacote de massa e uma embalagem de caldos de carne. 
Na gasolineira presencio um jerican entre os carros que estão a abastecer. Mais uma pessoa ficou sem gasolina na estrada, não por distracção, mas por achar que o combustível ainda chegaria. 
Nas mãos do carteiro noto que distribui demasiadas cartas registadas que adivinho trazerem as não boas novas de corte de fornecimento de serviços básicos. 
Observo lojas de face escondida em papel pardo forrando as montras, as empresas que fecham ao nosso redor a cada dia, os amigos e conhecidos que estão a sair do país e nos dá vontade de chorar por não termos percebido que aquela família estava a precisar de ajuda... 
A contra-ciclo da queda de poder de compra de toda uma classe média embaciada pelo constrangimento de o demonstrar claramente, eu quero falar sobre isso. 
Gasta-se demasiada energia e recursos a tentar disfarçar o que não temos de ter vergonha: Está a acontecer um pouco por todo o lado, em cada lar, em cada local de trabalho, com o invisível transeunte que connosco se cruza, no amigo que falta ao jantar calado por não o poder pagar, porque já não é possível manter a mesma vivência que se acostumou a demonstrar, a usufruir. Contudo, pela calada todos estamos a sobreviver. Faz parte da nossa natureza, não somos pessoas de desistir e com mais ou menos tranquilidade, sucumbimos aos chamados sub-empregos, os biscates de antigamente para conseguir assegurar o essencial. Recordamos com veemência as palavras de nossos avós que falavam de um tempo de crise diferente, mas que nos faz pensar com uma nova e adquirida propriedade no "uma sardinha para dois" 
Fala-se hoje dos novos pobres. Diferente de dizermos sempre os houve, sempre os haverá, é afirmarmos que a nossa classe média não estava preparada para este revés, para viver sem dinheiro, para viver sem saber como. Mas sabe! Mentir a nós próprios será o primeiro recurso, mas não é solução, porque a cada passo, notamos haver um degrau mais abaixo. E outro ainda. 
Eu tenho uma teoria sobre quando a vida nos dá limões. Limonadas? Não!, façamos logo o melhor possível e venham de lá as caipirinhas!! 
Se a sua vida se estilhaçou, aprenda que foi apenas a sua vida conforme a vinha vivendo, porque a SUA VIDA continua! 
O português é o mestre do desenrasca, e se já o povo clamava que a necessidade aguça o engenho, se observarmos atentamente, vemos que para além das mensagens gritadas alto nas redes sociais e nas manifestações mais que públicas, de forma silenciada a classe média reinventa-se, transforma uma vivência que não conhecia na sua nova rotina e não desiste!, ainda assim, afirmo: Calar uma realidade não faz com que ela desapareça, apenas aumenta o espectro de uma impossibilidade e a estagnação, essa, não é a que tem de sobreviver, mas sim - e que me perdoem a audaciosa redundância - a coragem de ter arrojo.


domingo, 11 de novembro de 2012

um post quasi-intimista

Num dos meus outros blogs, de entre os mais que muitos em que me disperso a escrever, trago hoje um post recentemente publicado no Cor do Ar. E por ser um post que fugiu do tom de quasi-palhaça que uso nesse meu blog e ter o tom quasi-intimista deste, publico aqui o conteúdo do último tema do desafio ARRANJEI UM 31, originário do nosso grupo maravilha E o esmalte da semana é... (provavelmente o melhor grupo do FB)

Chegámos ao último desafio e afinal não arranjei nenhum 31, mas sim um hobby que me tranquiliza o espírito e me deixa voar a alma nas inúmeras voltas da criatividade. Não acreditei que teria a disciplina de pintar durante 31 semanas uma manicure, quantas vezes adoidada, original ou improvável de me ver, na maioria das vezes o encontro com a Dona Acetona era imediato e sem tempo para 3º grau após a foto necessária para comprovar o feito.
E já agora, aviso:
Este post, ahhh este vou escrever no meu Português de Portugal. 

Nos últimos 23 anos da minha vida posso dizer que orgulhosamente sou mãe de uma pessoa linda: possui um bom coração, tem valores, personalidade e sentido de humor. Ser uma boa pessoa, seria – sem dúvida – o que deveria definir o meu filho Pedro, não o seu autismo. O Pedro existe para além do autismo, foi criança, foi adolescente, é adulto, com um sorriso lindo de viver, o seu peculiar olhar de esguelha com que enfrenta o mundo que o rodeia e com uma percepção da realidade que vai muito para além do esperado ‘numa pessoa como ele’… mas pergunto-me tanta vez se todos os autistas são diferentes, o que se poderia esperar do conceito tolo de uma pessoa como ele???
Se estão a pensar até este momento que a homenagem é para o meu filho, vá lá, meninas... desenganem-se!, tirem essa carinha de ownnn porque parece, mas não é para meu Pedro!!! Acho que o fiz nos desafios #FLORIPA e #FÉRIAS com mais ênfase. 
Aqui e agora, a homenagem vai para uma outra pessoa (que neste momento são duas: explico), para alguém que transporta literalmente outra pessoa consigo. Exactamente, a minha homenagem é a uma mãe grávida. É para a Mel. Tal como a analogia desta foto que o Pedrinho me tirou antes de acabar a mani, a homenagem é para um Pedro que ainda está a ser “acabado” e “retocado” e está prestes a ser mostrado ao mundo. 
A doce Mel (e que me perdoem esta redundância) diz-me frequentemente uma frase que me arrepia, me comove até ao mais profundo do meu âmago e, dei-me conta, por tanto me repetir, este sentir apenas acontece porque nunca me foi dito por outra pessoa em toda a minha vida de mãe. A Mel tem uma menina linda, a Aninha e está agora à espera de um menino, que será um Pedro. 
Brinca de uma forma muito carinhosa por serem os nossos nomes, meu e de meu filho, e vai mais além de tudo e de todos ao afirmar que gostaria que o seu Pedro seja como o meu.
Eu sei que fala do carácter, da personalidade, da pessoa que o meu filho é, e fico tão, mas tão grata por ouvi-la cada uma das vezes que o repete… nunca tive esta conversa com a Mel, vai lê-lo aqui, mas há 23 anos que as grávidas ‘fogem’ de mim, como se o autismo se contagiasse por proximidade, não querem nem partilhar nem saber, e eu melhor que todo o mundo entendo esse medo estático debaixo da pele, entranhado silenciosamente na alma de cada futura mãe, fico triste com cada afastamento de mim, mas até aceito. Fiquei particularmente triste quando uma das minhas amigas mais chegadas (e minha cunhada) desapareceu da minha vida durante as gravidezes. Eu entendi, como entendi!!, no caso, o medo seria bem mais real que com qualquer outra amiga (porque poderia acontecer-lhe visto ser genético), mas a nossa amizade baloiçou e, eu Ana, não tenho culpa de um medo de que tb sou escrava, que também mudou a minha vida. 
A Mel Sanroman está grávida e não tem medo de me dizer: «Eu quero que o meu Pedro seja como o seu.» E comove-me ouvi-la, comove-me escrevê-lo, não tenho nem sei onde encontrar palavras para poder agradecer alguém que não tenha medo e me diga por fim o que não esperava ouvir nunca, que a Mel consiga ver o meu filho para além do autismo!!, logo nos 9 meses de gestação que as hormonas andam loucas, se fica mais vulnerável, susceptivel e tudo o mais… a Mel tem de ter uma paz imensa com ela para poder conseguir ter essa leveza de sentimentos. Eu fico grata para além do razoável, para além do que possa dizer, escrever, chorar ou sentir. Para o teu Pedro, querida Mel, desejo – em primeiro lugar e mais do que tudo – que seja saudável (rijo como um pêro, como diziam os antigos). Filho de uma MÃE de alma tão generosa quanto a tua… a ser verdade que as crianças escolhem as mães que vão ter nesta vida – a ser verdade, porque eu não sei se assim será – então este Pedro soube escolher uma pessoa de bem, para o acolher, mimar, educar e amar. 


E para ti, Mel, desejo toda, mas toda a felicidade que houver nessa vida, daquela com sabor de fruta mordida, daquela que se tem a sorte viver como na belíssima música da Cássia Eller que fala de um amor tranquilo. Desejo-te uma vida muito feliz, minha doce Mel. Obrigada.




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