sábado, 14 de fevereiro de 2015

O ruído do dia dos namorados

Há datas comemorativas que repetidamente acabo por escrever aqui e ali o quanto me irritam e, à cabeça, está a do dia dos namorados, ou como gosto de chamar: o Dia-Oficial-do-Manel-levar-a-Maria-à-rua. É de resto um dos textos do meu livro, MAL ME QUERO (podem lê-lo aqui, basta clicar no link). 
E pergunto: Mas porque raio só se pode namorar num dia (ou num serão) em que os comerciantes portugueses se resolveram apropriar de uma ideia americanizada que tem à partida um sentido mais lato? 
Bem sei que há quem me leva a mal por blasfemar continuadamente sobre a hipocrisia que é haver um dia para namorar, mas convenhamos, não é por levar uma vida a solo que me podem equiparar a um padre a dar conselhos matrimoniais no altar, afinal, dêem-me esse voto de confiança, já que o tal voto de castidade nunca o fiz, e segundo me lembro, afirma-se peremptoriamente que até os bichinhos gostam. Então porquê haver apenas e só um dia para celebrar um namoro, um relacionamento, um casamento??? Não entendo, juro que não.

Art of Noise - Moments in love

O "ruído" em torno deste dia oficial incomoda-me sobremaneira, como só se pudesse provar a nobreza de sentimentos ofertando um menu comme il faut, para degustar de faca e garfo: lingerie kinky (que faria um Mr. Grey corar), ou pior ainda, enveredando pela linha fofinha - ursinhos de peluche (grandes e felpudos de preferência), frases bacocas (pré-escritas por um qualquer criativo desalentado) e sempre, sempre sob uma patética e aborrecida chuva de coraçãozinhos encarnados, pétalas de rosa ou o previsível empratamento de morangos fora de época com sabor a esferovite enxertados em cortiça.
Sabemos que um relacionamento, seja namoro ou casamento, é muitas vezes atraiçoado pela cadência morna que a rotina sabe ter, que como o cliché diz, é uma flor que necessita cuidados diários, tem de ser regada todos os dias - Todos os dias!, não em dia de data marcada! Pergunto: Têm todos de demonstrar o seu sentir da mesma maneira à mesma hora que todos os casais do mundo? Ai que aborrecimento! Não resta nenhum espaço para uma imaginação galopante?
Num artigo interessante que li há dias (podem ler clicando aqui), afirmavam que apenas a Bondade e a Generosidade podem salvar um casamento. Ora, digo eu, poderá ser tão redutor quanto a minha teoria da tríade Amor-Confiança-Respeito, mas deixando imperar o bom senso, num relacionamento onde  o 'casamento' destes cinco elementos exista, merece tudo de bom.
Eu não acredito no 'foram felizes para sempre', mas acredito que se possa construir a dois uma base em que se seja feliz a cada dia de sua vida juntos, seja eterno enquanto dure ou que dure eternamente.
A felicidade não é um elemento estático que aterra e se queda de sorriso aparvalhado a nosso lado. - "Pronto, cheguei!! Agora, tens de ser feliz!" - É apenas constituída por breves momentos, já a vida nos ensinou, não foi?
Se tivermos dois palmos de testa, bondade no coração, e sim, convém que não seja como na anedota do alentejano, a que o compadre pergunta ao noivo enquanto lhe compõe o lenço de gravata: "atão, Maneli, vais casar ca Maria por interesse ou por amori?" o Manel pensa, matuta, franze o sobrolho e responde após uma looooonga pausa: "Ahh compadre, há-de ser por amori, qu'eu cá interesse na gaja nã tênho nenhum!",
então respeitando quem se escolheu para estar a seu lado, amando até os defeitos tontos que se diluíram no tempo e na vontade superior de estarem juntos, parece-me uma boa receita condimentada q.b. com um ternurento sentido de humor.
Que haverá zangas? Ahhh! certamente. Eu acredito em almas gémeas. Mesmo. Não creio que, por agitar uma varinha de condão, as duas pessoas se transformam em uno, como os cães que dizem que se parecem com seus donos ao longo de certo tempo. Trata-se de dois seres humanos, duas cabeças, dois seres que pensam e são diferentes, ou parecidos, ou mesmo muito parecidos, mas nunca perdem a sua unicidade. E se se zangarem? E então? Ora, entra aqui a tríade-maravilha em acção: o respeito e a confiança no amor nunca podem ser quebrados. Nunca. Disso estou absolutamente convicta. E se for  para ser quebrado (bom... lá está a imaginação galopante ou então o sentido de humor a funcionar), então... se for para ser quebrado, que seja apenas esta sugestão bonita, original e sim, divertida, que aqui vos deixo de seguida, para pôr um fim a uma briga matrimonial.
Cumplicidade. Digo eu que é o que faz falta a muita malta. Sentem-se, conversem, olhem-se nos olhos e não me lixem a dizer que não têm tempo. Deixem a casa por limpar, não lavem o carro ao sábado de manhã e fiquem mas é na caminha a namorar. E isto, malta, não é para se aplicar só ao raio deste sábado dia 14 de Fevereiro!
E sejam felizes, caramba, isto é tão curto... Aproveitem a vossa vida sem medos, de sorriso e braços abertos, sem ser comme il faut de garfo e faca.
Leram (ou releram) ontem o Dia-Oficial-do-Manel-levar-a-Maria-à-rua? Lembram-se da última parte? Eu confesso, gosto particularmente desta minha frase:
“Há é uma forma diferente de ver e viver a vida, o que nos torna loucos aos olhos dos que levam uma vidinha triste e sem sabor. A nossa, sabe a morangos com chocolate, até, quem sabe, sake e wasabi, se e quando deixamos a parte picante entrar na nossa vida.”

Termino com as palavras do escritor Jorge C. Ferreira que me deixaram sem fôlego (Luís Osório diz que é o melhor escritor não publicado que conhece). Todos os dias publica na sua conta de facebook textos encantadores. Descubram-no.  



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Charcot-Marie-Tooth, o que é?

Mais uma doença degenerativa com nome complicado?

Outros cientistas já tinham descrito casos semelhantes, mas foi o trabalho efectuado por estes três cavalheiros, Jean-Martin Charcot, Pierre Marie e Howard Henry Tooth (este último fez inclusive uma tese de doutoramento), que viriam a dar o nome Charcot-Marie-Tooth a esta doença.

Poderia começar por vos dizer que é uma doença neuromuscular, degenerativa, e que os principais sintomas recaem na deformação dos pés e mãos, também nos braços e pernas, propriamente na massa muscular, que causa perdas na sensibilidade e de equilíbrio, passando pela falta de força, e, por ser degenerativa, compromete a independência da pessoa portadora deste diagnóstico de nome estranho. Mas o estranho acontece e o inusitado bate à porta de qualquer família.  O Diogo tem só 15 anos e juntamente com a mãe Susana Moura, decidiram fundar esta Associação em Portugal para apoiarem os portadores de Charcot-Marie-Tooth, enfermidade da qual o Diogo padece, e de que é, de resto, o presidente. Vamos ouvi-lo? 




Acontece que no ADN desta jovem Associação, está um valor muitas vezes esquecido: a BONDADE. Poderia falar igualmente de solidariedade, mas o dar a mão a quem não se conhece, é a meu ver mais que um acto solidário: é proveniente de corações onde a bondade simplesmente habita. 

E desta vez, a mão veio na direcção da minha e do meu filho. Sabem como? Faz parte dos princípios da Associação Charcot-Marie-Tooth dar a mão a outras causas (neste caso específico foi o Autismo) e distribuir 50% dos donativos angariados. É verdade. Não é usual. As campanhas ficam fechadas dentro de si mesmas, mas nesta Associação, literalmente, dão a mão. Escolheram doar metade da receita dos donativos através da exposição "meu pé, tua mão" à campanha Ajudar Pedro e Ana ou seja o meu Pedrinho e eu. 


 

Nem será necessário reafirmar como este gesto me sensibilizou. A Susana pedia desculpa por não ser uma quantia "gritante" mas... é! 
Estou tão grata, Susana e Diogo... e ao malandro do Valério Romão, companheiro de letras e causas comuns, que indicou o nosso nome. Um dia perguntou-me assim na lata, com a franqueza que nos assiste, como me  (nos) poderia ajudar mesmo e eu, na mesma linha, respondi-lhe, deixa-me pensar e depois digo-te. Valério, que forma tão bonita arranjaste de nos ajudares. Obrigada, obrigada, muito... tanto!


Deixo-vos com um outro vídeo que descobri nesta minha busca por entender melhor o que Charcot-Marie-Tooth vem a ser. Gosto desta postura onde o coitadinho não entra... Deve ser defeito meu, porque não há adversidade que derrube o meu sorriso. 




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