sábado, 27 de fevereiro de 2016

Escolhas

chuva? frio? neve...? hum hummm
Num final de semana como é este em que a expectativa é para que chova, faça frio, muito frio e até neve pelo país, na minha saída matinal para comprar pão quente, o S. Pedro generosamente presenteia-me com um lindo céu azul turquesa, tão do meu agrado, assim como um calorzinho de aquecer as bochechas e o coração.
Achei engraçado tirar foto de uma bonita amendoeira prematuramente em flor e colocá-la no facebook com um qualquer texto, talvez alusivo à bonita lenda da princesa oriunda do norte da Europa que casou com um rei mouro. Conta-se que sendo sensível à sua tristeza (pela saudade de avistar os campos cobertos de neve na sua terra), o marido mandou plantar amendoeiras a perder de vista nas terras algarvias ao redor do seu castelo, para que a sua bela e jovem mulher sorrisse ao avistar, pelo início da Primavera, uma paisagem branca. Mas o meu apelo era o céu limpo de riscos deixados pelos aviões, num deslumbrante tom de azul profundo. A legenda que coloquei na foto correu em contraposição ao sentido que todos estavam a publicar nas redes sociais nesse momento: o frio gélido do vento, a chuva intensa, o granizo enorme, li que falavam de desconforto. Sim, estava mesmo muito frio, mas escolhi valorizar o fugaz momento feliz que o Sol abriu e brincar com o teor da legenda.
Em momento nenhum escrevi, publiquei ou comentei que esse instante se desvaneceu, acto contínuo, ainda esperava o pão quente sair, o céu fechou e no regresso a casa apanhei uma molha enorme. E sim, foi de novo uma escolha minha muito consciente.
Nas redes sociais cada um usa o seu livre arbítrio para publicar o que lhe aprouver. Todos o sabemos. Podemos achar louvável ou detestável o que o outro escolhe compartilhar. Podemos escolher ler, comentar, deixarmo-nos impregnar naquelas palavras ou voltarmo-nos para outras. Podemos pensar ser aquele o todo, quando apenas é a parte que foi escolhida para partilhar por um qualquer amigo virtual. Pensamos que tal afirmação pode ser real, fantasiosa, ou até despreocupadamente falsa, apesar da convicção do indivíduo ser legitimamente enraizada que está a fazer o correcto.
Cada um de nós escolhe o que quer mostrar de si, como quer mostrar, a quem quer mostrar. Podemos agitar bandeiras, defender causas, levantar a voz ou silenciar numa hibernação profunda. Podemos tanto, podemos tudo.
Ou podemos escolher desligar o wi-fi e simplesmente viver a vida real.


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