quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Shôr Victor

Parece-me que foi ontem, que o Shôr Victor da mercearia fez anos. Muito se tem falado no raio do homem. Fez 35, uma dezena e picos mais novo que eu, o que faz toda a diferença. Nunca simpatizei com ele, desde puto, era mesmo quase embirração com a atenção que lhe davam. Ainda agora entrei na mercearia, porque precisava de um pacote de leite, mas evito, não me inspira confiança aquele bigode a esconder a falta de dentes. E imaginar que o estafermo teve as maiores audiências televisivas há 25 anos!!
Hoje o puto seria uma aberração. Qual a probabilidade de se encontrar actualmente (imaginemos num prédio, em que cada apartamento há um criança da mesma idade), famílias inteiras sentadas no maple de napa da sala a ver, num só aparelho de televisão (a cores), o programa da noite? E ao som de um outro fedelho, todas as crianças se levantam, como o cãozinho de Pavlov, sabendo estar na hora da caminha, sem nunca esquecerem de escovar os dentes e sem sequer argumentarem? Hoje a criançada tem tv no quarto e mais uma quantidade de gadjets para sua distracção e sossego dos pais. Cada um dos pais biológicos em sua casa, bem entendido, que na actualidade haverá uma panóplia de realidades mais credíveis que a de há 25 anos. Num só prédio todos os condóminos estarem ainda no primeiro casamento e com filhos (vários) só do casal? Já não me parece nada natural e unificador a imagem serena na penumbra do quarto do petiz, da mãe que se verga a contar história de boa noite, que aconchega o cobertor e beija o filho enquanto o pai fica de pé, um passo atrás, de mãos nos bolsos cumprindo a sua função e só no final beija levemente a testa do miúdo para depois conduzir a mãe para o maple para assistirem na televisão ao programa de variedades da noite.
Só me dei conta, ao ouvir na mercearia «Parabéns Vitinho!» porque o shôr Victor andou toda a semana com o velho e irritante chapéu de palha: era a sua forma de comemorar. Devia ter arranjado umas jardineiras. Havia de ficar lindo, rimava mesmo com o bigode farfalhudo e a unha do dedo mindinho.

«O Vitinho foi um desenho animado de grande sucesso em Portugal, cujas transmissões duraram entre os anos de 1986 e 1997. A transmissão diária na televisão das películas "Boa noite, Vitinho!", sempre em horário nobre, atribuiu-lhe picos de audiência e uma admiração consensual: não só por parte das crianças, mas também por pessoas de todas as idades.» 
 Origem: Wikipédia 


Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...