domingo, 11 de janeiro de 2015

Limpa menos, lê mais

Desde que li que o Dalai Lama um dia disse: «Limpa menos, lê mais» 
Ahhhhhh eu parei mesmo a minha vida louca, corrida e stressadíssima da forma como a conduzia até então, para pensar na verdade subjacente nestas simples palavras. E foi um momento que antecedeu a 'grande viragem', com direito às grandes modificações inerentes tal como às consequências, as boas e as más. 
Verdade que nasci ainda numa geração em que fomos educadas para casar, o tal Síndrome de Cinderela de que todas acabamos por ser de uma forma ou de outra vítimas que, de resto, já escrevi no meu livro MAL ME QUERO (quem tem o acesso ao ebook lê aqui nesta página
Lembro-me de limpar a minha casa duas vezes por semana, talvez pelo vício do cheiro a cera de abelha acabadinha de passar no chão, que veio rapidamente a adquirir aquele tom douradinho que pela hora do pôr-do-sol em diante se espraiava pela madeira, era um espelho lindo e o meu orgulho, a luz quente, o chão da minha casa). Valeu-me de muito o esforço e dedicação quando a minha vida num ápice virou de cabeça para baixo com um diagnóstico que não se deseja nem espera. Toda a grávida sonha com o seu bebé lindinho e perfeitinho. Já sabemos não foi o que me aconteceu. 
E num outro ápice medonho, o meu lindo chão, que por diferentes prioridades e solicitações se tornou baço, deixou de me criar qualquer tipo de embaraço, tão-pouco, preocupação. Só anos mais tarde teria de novo o tempo para retomar esse frenesim, mas sabem?
Já havia compreendido o tal sábio ensinamento: em vez de sequer olhar para o chão descolorado, para além de escolher cozinhar (uma das tarefas que me dá mais prazer e até a tal paz tão almejada), sorri para os livros que pacientemente esperaram que o meu filho crescesse, e por fim, por mim, escolhi escrever. 

Reproduzo agora um texto de autor desconhecido, traduzido livremente por mim, mas faço a ressalva que se encontra, tal como o descobri, no meu mural facebookiano (e por traduzido livremente, afirmo que acrescentei, como boa cozinheira que sou, a minha dose q.b. de pozinhos de perlimpimpim)

«Não deixes que as tuas panelas brilhem mais que tu! 
Não leves as limpezas ou o trabalho tão a sério! 
Pensa antes que aquela camadinha de pó homogénea só te vai criar uma patine e proteger a tua cómoda, pensa que uma casa somente vai ser um lar quando fores capaz de escrever com o dedo “Amo-te” sobre os móveis. 
Antigamente eu gastava no mínimo 8 horas por semana para manter tudo bem limpinho, para o improvável caso de “alguém aparecer” – mas depois descobri que ninguém passa “por acaso” para visitar – todos estão muito ocupados a passearem, ou a divertirem-se e a aproveitar a vida! 
Então e agora?, se alguém aparecer de repente? 
Na verdade, não tenho que explicar a situação da minha casa a ninguém… as pessoas não estão mesmo interessadas em saber o que eu estive a fazer o dia todo enquanto outras passeavam, se divertiam ou aproveitavam as suas vidas… Caso ainda não tenhas percebido: 
É REAL - A VIDA É CURTA… APROVEITEM-NA!!! 

Limpa o pó, ok, mas quando e se for preciso, 
mas pára para pensar se não seria melhor experimentares pintar um quadro ou escreveres uma longa carta a tinta permanente, dares um passeio à beira-mar com o sol quente a bater-te nas costas e os salpicos da água a refrescarem-te, ou visitares um amigo, quem sabe bater energicamente um bolo, o teu preferido, o que não fazes há anos, e permitires-te lamber a colher repleta de massa crua, de saíres para o jardim ou varanda e plantar umas sementinhas, regá-las e veres tudo crescer e florir? 
Pondera muito bem a diferença entre QUERER e PRECISAR. 

Limpa o pó, ok, mas quando e se for preciso, 
porque poderás não ter muito tempo para beberes uma bjeca geladinha com tremoços, nadares no mar (ou na piscina), escalares montanhas, enroscares-te com os teus cães rebolando na relva, ouvires música e leres aqueles livros que estão em pilha na tua mesinha de cabeceira, cultivar a relação com os amigos que mais prezas e aproveitar a vida! 

Limpa o pó, ok, mas quando e se for preciso, 
porque a vida continua lá fora, o sol fazendo-te semicerrar os olhos, o vento a despentear-te o cabelo, ou uma chuva molha-tolos caindo mansamente ou um floco de neve que te deixa as bochechas encarnadas. Pensa bem, este dia não voltará jamais! 

Limpa o pó, ok, mas quando e se for preciso, 
mas não te esqueças que vais envelhecer e muita coisa não te será tão fácil de fazeres como agora… E quando fores, como todos nós partiremos um dia, também vais tornar-te pó! 
Ninguém se vai lembrar de quantas contas pagaste, nem da tua casa tão limpinha, mas vão-se recordar sempre do teu sorriso e generosidade, da tua amizade fiel e intensa, de tua alegria até da tua maroteira, e sim, do que ensinaste. 
 No fim das contas, “Não é o que tu acumulaste, se não o que espalhaste (sem te dares conta) que reflecte como tu viveste a tua vida.”» 



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