Qual seria a tua idade se não soubesses quantos anos tens?
A facilidade que seria responder que todo o mundo diz que não aparento a minha idade... nas tenho-a, e sinto-a bem real nos achaques que não vão embora com a facilidade que tinha aquando dos vintes.
Acontece que desta vez é estranho. Eu sou uma pessoa intensa - só sei pintar da cor que enche tudo - não passei pela vida incólume e esta entrada numa nova década que deveria ser marcante, que não me diz nada por antecipação, mesmo sendo arredia a qualquer lugar-comum, arrasta-me para um amargo sabor de desenxabido guião inacabado.
Penso que vou deixar-me ir.
Certamente que se em 50 anos não fui nunca de me preocupar com o futuro, não será agora que terei essa filosofia de vida.
Com os quarenta, a maturidade aterrou, mas não foi ao soprar velas, nem pela passagem de um dia no calendário setembrino. Foi chegando, enroscando-se sem avisar e chega-te para lá que me instalei. Eu cresci. Sem pressas, sem tumultos. Um dia dei-me conta que a tal criança interior de que tantos falam em reter, já não era mais pirralha. Foi um processo tão natural como bonito.
Com os cinquenta, e já que expectante não estou, presumo que seja a época de aproveitar a vida. Definitivamente esse seria o desejo, caso soprasse velinhas.
Paz. É um desejo interior e antiguinho. A sugestão de estar descalça no corpo todo, agrada à pirralha que cresceu.
Porque mesmo sabendo que faço cinquenta, se não o soubesse, possivelmente situaria a minha idade noutra faixa etária. Talvez porque a Ana-Mãe prevalece à Ana-Mulher, até à Ana-Profissional e essa preponderância faz com que haja ainda muita estrada para caminhar, desafios a concretizar, vida a ser vivida.
É o que anseio. Tempo com qualidade para o poder, por fim, fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário