A mágica história do pequeno guarda-rios apanhou-me desprevenida. Conhecia o bonito traço nas ilustrações com que o Pedro Suárez nos seduz e faz sorrir, todavia arrebatou-me a narrativa enriquecida, fazendo bom uso de um vocabulário inusitado num autor de tão pouca idade.
Martim o Pescador, o pequeno pássaro de luxuriante plumagem azul é, desde a Primavera em que nasce, humanizado pelo autor, dando-lhe a par da capacidade de bordejar rio acima, de só mergulhar após uma paciente, porém frutífera pescaria, como bom guarda-rios que aprende com o senhor pássaro seu pai a ser, concede-lhe a inverosímil possibilidade de se quedar biquiaberto com cartas por ele escritas em papel de junco, ou impaciente, de meter duas patas de conversa, sem nunca dar a asa a torcer.
O autor, à medida que vai construindo com musgos e líquenes a casa e vida do pequeno e atrevido Martim, vai-nos apresentado as deliciosas personagens que o rodeiam e cautelosamente vai-nos deixando, aqui e ali, pistas a entreler uma velada sequela, qual Harry Potter alado em azul-metálico.
O Senhor Gaspar, a centenária e sapiente tartaruga de lento assobio musical, só nos é apresentada mais tarde, desfazendo um precipitado e imerecido julgamento do jovem passarinho. A abismal diferença de atitude e idade entre estas duas personagens não é fruto de um mero acaso, se não de uma perfeita analogia em que o autor nos guia até ao amadurecimento de Martim.
Ao longo de todo o livro, sentamo-nos confortavelmente no largo cadeirão de veludo verde-escuro, deixamo-nos bailaricar ao entrar na casa-árvore quando sorrindo, afastamos com uma mão a exuberante cortina de heras, tomamos pelo outro braço um cesto com pão com uma garrafa de licor e rodopiando um pouco mais, inebriamo-nos na frescura das hortelãs e das cidreiras já totalmente envoltos na doçura das camomilas e das flores de trevo, enquanto as subtis notas das tílias cantam para os confiantes funchos.
1 comentário:
Querida Ana, parabéns pelo teu blog e por esta história que hoje nos trazes! Sabes que adoro livros infantis? Se os meus netos trazem um ou outro, devoro logo! E tenho parte de uma prateleira dedicada à literatura infantil. Há uma criança sobrevivendo e mim, seguramente, e passo o lugar-comum! Um grande beijinho e parabéns ao Autor!
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