Vim cá para fora telefonar. Está um frio húmido, tenho roupa suficiente e ainda assim gelo. Vou para o carro e faço a chamada. Temos falado sempre a correr, mas hoje preciso contar-lhe.
Eu vejo-os.
Estamos num armazém ou antigo stand de carros em que a parte de cima é um hotel improvisado, à volta os campos estão cultivados, árvores ao fundo, a terra é bonita, penso, enquanto enrolo um cigarro. Anoiteceu e o frio é imenso. Fecho o casaco com um arrepio. Mesmo com o lume momentâneo de acender o cigarro, constato como se pôs tão escuro.
É quando as sombras mais melancólicas os encobrem. Estão por todo o lado, sabes? Ali, debaixo daquela árvore desalumiada. Será que estão abrigados da inclemente chuva?, é tão intensa e fria, muito fria. Cabisbaixos, cobertos com uma manta sem ser impermeável, estará encharcada certamente, e sob o esmagador peso da morrinha contínua, como podem estar agasalhados naquela escuridão? Mais além, vejo-os ensopados, enregelados, entorpecidos, enlaçados. Acolá, com crianças ao colo avançam em silêncio, os pés a enterrarem-se na lama pisoteada dos campos outrora cultivados. Tropeçam, caem, rastejam, reerguem-se. Sinto-os, descalços a avançarem, e o frio? É terrível, nem no nosso Inverno está frio como está hoje e nem Inverno é ainda! Vejo-os a arrastarem os poucos pertences que trouxeram, as mochilas com bens básicos que lhes deram lá atrás, toda a vida debaixo de um braço. E o frio húmido que me gela apesar da minha roupa polar, quente, seca, confortavelmente sentado ao volante do meu carro estacionado enquanto telefono. Temos de desligar, dentro de cinco segundos já vai para trinta euros, isto é horrivelmente caro, e incapaz de desligar, continuo. Semicerro o olhar para tentar vislumbrar no negrume da noite. Estão aqui, em todas as bermas, constato-o. Parece mesmo que os vejo, tão presentes estão por todos os recantos escuros. Aperto no peito que dói mais que a asma, não há remédio que alivie o que os meus olhos parecem ver emergir à minha volta, como a minha alma os sente. O som dos passos descompassados, ritmos e energias diferentes emergidas num deslaçar desconectado, olhares que percepciono esvaziados. Onde ficou o sonho? E contudo caminham. Vêem em cada fronteira o eldourado. Estugam o passo, afobam-se e o arame em rolos. Enlaçam mais o filho no colo. Porquê o arame?
É quando as sombras mais melancólicas os encobrem. Estão por todo o lado, sabes? Ali, debaixo daquela árvore desalumiada. Será que estão abrigados da inclemente chuva?, é tão intensa e fria, muito fria. Cabisbaixos, cobertos com uma manta sem ser impermeável, estará encharcada certamente, e sob o esmagador peso da morrinha contínua, como podem estar agasalhados naquela escuridão? Mais além, vejo-os ensopados, enregelados, entorpecidos, enlaçados. Acolá, com crianças ao colo avançam em silêncio, os pés a enterrarem-se na lama pisoteada dos campos outrora cultivados. Tropeçam, caem, rastejam, reerguem-se. Sinto-os, descalços a avançarem, e o frio? É terrível, nem no nosso Inverno está frio como está hoje e nem Inverno é ainda! Vejo-os a arrastarem os poucos pertences que trouxeram, as mochilas com bens básicos que lhes deram lá atrás, toda a vida debaixo de um braço. E o frio húmido que me gela apesar da minha roupa polar, quente, seca, confortavelmente sentado ao volante do meu carro estacionado enquanto telefono. Temos de desligar, dentro de cinco segundos já vai para trinta euros, isto é horrivelmente caro, e incapaz de desligar, continuo. Semicerro o olhar para tentar vislumbrar no negrume da noite. Estão aqui, em todas as bermas, constato-o. Parece mesmo que os vejo, tão presentes estão por todos os recantos escuros. Aperto no peito que dói mais que a asma, não há remédio que alivie o que os meus olhos parecem ver emergir à minha volta, como a minha alma os sente. O som dos passos descompassados, ritmos e energias diferentes emergidas num deslaçar desconectado, olhares que percepciono esvaziados. Onde ficou o sonho? E contudo caminham. Vêem em cada fronteira o eldourado. Estugam o passo, afobam-se e o arame em rolos. Enlaçam mais o filho no colo. Porquê o arame?
Não tarda amanhece, vais ter um dia cheio de luz, lembra-me ela. E olha, vamos desligar, insiste, é muito dinheiro. Não consigo, deixa-me contar-te, digo. E escreve, peço-lhe. Escrevo sim, diz, vou ser os teus olhos, a tua voz, o teu coração, garante-me. Em breve amanhece, reafirma, vão ter um dia bom!
Se quiser e puder, ajude nos custos da viagem do carro do Pedro Lapa pelo
NIB 0035 0836 0069 2517 3302 6
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Grata e bem hajam!!!
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