O Pedro e eu somos família monoparental.
Hoje, logo hoje, quero contar-vos sobre um bonito momento nosso:
Habituei-me à narrativa de que, nesse fim de Agosto, no afã de uma gravidez complicada e num parto quase mortal para ambos, o cirurgião chefe (que nos salvou), no afã da confusão que foi aquela complexa cirurgia, se esqueceu de cortar a cordão umbilical, e eu, ao longo destes quase 35 anos, nunca tive em mãos o instrumento nem a vontade.
com cinco anos |
Sempre proibi ferozmente, desde tenra idade, a quem quer que fosse, de proferir palavras menos elogiosas acerca do progenitor, estando o Pedro presente.
Não é correcto, não há necessidade e não acho justo para com uma criança.
A vida encarregar-se-ia, com o tempo e a maturidade que viesse a adquirir, de poder formar a sua opinião.
Num dia 19 de Março, teria o Pedro oito ou nove anos, depois de trabalhar, fui buscá-lo ao ATL. Trazia um presente na mão que insistiu em dar-me.
Estavam dois homens, pais supus, à espera dos seus rebentos.
Senti o olhar, aquele de esguelha, o que de tanto nos mirarem, nunca nos iremos habituar enquanto vivermos.
O Pedro insistia em dar-me o presente, e eu, estupidamente, senti-me julgada por aqueles dois homens. Acto-contínuo, começo a justificar o meu filho em automático, perante aquele olhar (e se eu já sabia rosnar...), pondo-me a explicar ao Pedro que era dia do Pai, que o dia da Mâe...
Nesse momento, o Pedro interrompe-me, com um tom de voz agastado, até algo irónico: "Bem sei!, primeiro domingo de Maio, blá, blá, blá..."
"Ouve-me", disse.
Puxou-me pelas abas do meu casaco, forçando-me a baixar até à altura dele e me poder olhar bem nos olhos.
Sim, algo atípico.
Ganhou, como queria, todo o meu tempo.
"Quero que me oiças com atenção."
Beijou-me na bochecha: "Deste lado és Mãe,"
Beijou do outro lado: "Deste lado és Pai! Eu quero que este presente seja mesmo para ti e não fique guardado num gaveta até ao meu aniversário ou ao Natal."
Abracei-o, num dos nossos abraços infinitos.
Notei num breve relance, sobre o ombro do meu filho e vi os olhares emocionados dos outros pais.
É.
O Pedro ofereceu-me o Dia do Pai.