domingo, 5 de dezembro de 2021

Cartas em Castelo

Queridos leitores, 

Poderia ter dado a este livro o previsível título "Azul e branco aos quadradinhos", caso fosse a continuação do anterior. Para fugir dessa monotonia, arrisco num outro voo pelo tempo que não é medido no pulsar de um relógio. 
Cartas em Castelo é o segundo livro de uma trilogia que começou com o "Azul e branco às riscas", e que concluirei com um terceiro a que não darei o título de "Azul e branco às bolinhas". Os três romances serão de leitura independente com uma fina linha de pozinhos de perlimpimpim que os enlaça em tons de azul. 
Cartas em Castelo é o meu sétimo livro. 
Ao longo dos anos fui-me dando conta de que após a leitura, de qualquer um dos meus romances, os leitores procuram outro e muitas são as vezes que me surpreendem agradavelmente ao perceber que leram todos. 
Poderá ter muitas interpretações, cinjo-me ao facto que essa escolha do leitor me deixa imensamente feliz. 
No meu sétimo livro, sendo um número que envolve ciclos completos, como os dias da semana, as notas musicais ou as cores do arco-íris, resolvi nesta minha sétima volta a esta pescadinha de rabo na boca, fazer um miminho especial para com os leitores que já leram os outros meus livros. 
Como? 

 Deixo-vos um abraço bom, 




domingo, 7 de novembro de 2021

Sinopse do livro Cartas em Castelo

Queridos leitores, 

Hoje revelo-vos a sinopse do livro Cartas em Castelo: 

SINOPSE  

Aquela rapariga... 
Teresinha reflectia amiudadas vezes, como a vida, nas voltas que dava, era tão ironicamente engraçada: 
Madalena com quase 20 anos, a vida toda pela frente, nunca tem tempo para nada, vive a correr! Já Teresinha, com os seus 78 anos, tem todo o tempo do mundo e mais um dia, pensa e actua como se se movesse num tempo diferente. 
Num suspiro, o mundo pára e tudo muda. 
Isoladas durante a quarentena de 2020, a bisavó em Castelo Novo e a bisneta, em Castelo Branco encontram tempo para uma cumplicidade que começa por uma carta. 

Deixo-vos um abraço bom, 








sábado, 6 de novembro de 2021

Como reservo o livro Cartas em Castelo?

Queridos Leitores, 

Começa agora e vai até ao lançamento do livro Cartas em Castelo: pode reservar!

Ao reservar já o seu exemplar terá a oferta de um presente, que revelo serem conteúdos absolutamente originais, exclusivos e grátis; um dos miminhos que preparei apenas para os primeiríssimos leitores. 

Cartas em Castelo é o meu sétimo livro. 

Ao longo dos anos fui-me dando conta de que após a leitura, de qualquer um dos meus romances, os leitores procuram outro e muitas são as vezes que me surpreendem agradavelmente ao perceber que leram todos. 
Poderá ter muitas interpretações, cinjo-me ao facto que essa escolha do leitor me deixa imensamente feliz. 
Por isso, decidi mimar os leitores mais fiéis das mais variadas maneiras, até com surpresas ao longo da leitura do livro...

Para garantir os conteúdos exclusivos, valide a reserva do seu livro! 


 E eu estou feliz! 
O livro Cartas em Castelo em breve nasce e chega às nossas mãos; ainda está no útero, mas já com contracções... sim, sinto cada um dos meus livros como um filho, de tantas fases passo, sinto-as como uma gravidez! 

Deixo-vos um abraço bom, 






terça-feira, 19 de outubro de 2021

Novo Livro - Cartas em Castelo

Olá queridos leitores, 

Escrevi exactamente há um ano esta carta. 
Sendo fiel à essência do livro e tendo começado esta ideia numa longa conversa com a Madalena, senti um ímpeto de lhe escrever. 
O livro está pronto! 
Está a ser tratado com muito carinho para chegar às vossas mãos ainda antes deste Natal. 
Será o meu sétimo "filho" e revelo hoje o seu título: 

Cartas em Castelo 

Hoje escrevo esta nova carta para convidar todos os meus queridos leitores para a apresentação presencial - sim presencial - esperemos, já sem máscara e muitos abraços. 

Até breve! 








sexta-feira, 30 de abril de 2021

Banca dos afectos

O que secretamente mais desejamos? 
Posso arriscar pensar que, nesta fase em que vivemos, seja um abraço. 
Desafiaram-me a "montar uma banca dos afectos" à porta de casa e, de forma virtual, aceitei a simpática provocação. 

Durante o mês de Abril decidi publicar, a cada dia, imagens e frases que em algum momento, abraçaram cada um de nós. 
Excertos dos meus livros logo pela manhã e de outros autores pelo final do dia. 
Fui percebendo o alcance que esta pequena e afectuosa banca estava a ter pelas estatísticas que me chegavam.
Estas publicações foram sendo lidas, comentadas e partilhadas nas redes sociais aqui e além fronteiras. Atravessou o oceano, abraçou a carência, desencorajou o julgamento, desalinhou o obstáculo e enfrentou o medo. 
Eu sei o impacto que causou em mim reler passagens de todos os meus livros, a serena busca pela frase certa e a cuidadosa escolha da imagem que melhor se adequava. 
Sei o que me fez pensar e sentir. 
Ao leitor, posso apenas imaginar. Ou perguntar: 

Até onde foi este enternecido abraço durante todo o Abril? 


segunda-feira, 22 de março de 2021

Spoiler alert novo livro II

Estas imagens dão uma ideia de como eu vejo as minhas personagens deste novo livro. 
Quatro mulheres, quatro gerações, quatro histórias envolvidas em castelo. 
E depois o Gil. Ahhh... e o Ernesto!?
Este livro terá mais personagens que não mostro agora. 
É apenas um appetizer, gosto da provocação, revelar mais seria estragar tudo.



Teresinha 
"Houve tantas complicações querida bisneta – pensou – ganhos e perdas, preconceito, inveja e lágrimas. Dor. Muita. Inultrapassável. Cair de joelhos no chão e não conseguir ver para além do horizonte. Mas se houve trovoadas, houve o apaziguamento após cada borrasca. Orgulho quebrado, nariz no ar. Afundar e voltar à superfície. Cada conquista com travo amargo-doce transformado num sereno renascer adoçado com canela e açúcar amarelo e sempre a entrega e o muito amor em tudo o que fiz na vida. Sorriu. Tudo se resumia a que estava bem. Sim, era feliz." 

Lili 
"Teresinha e Ernesto tiveram só essa filha a que chamaram Liberdade, num período que foi um desafio feroz ao regime. Já a menina, quando teve idade para entender o peso do seu nome, escolheu ser apenas Lili." 



Sara 
"Sara era uma mulher diferente da força da natureza que era a mãe, ou até a avó. Teresinha por vezes pensava que teria sido devido ao divórcio atribulado, por Sara ter tido um pai completamente ausente na sua vida, mas essa falta também acontecera à Lili nos nove anos que Ernesto esteve preso pela P.I.D.E." 


Madalena 
"Teresinha tinha verdadeira paixão pela sua bisneta que tinha uma personalidade forte; não saíra tanto à Sara, herdara toda a fibra de Gil! Era uma miúda pispineta, respondona e impaciente, mas dedicada, meiga e atenciosa." 


Gil 
"Gil escolhera ser médico de família, voltar à terra onde era o rapaz, a cidade que todos o conheciam, sentar-se no consultório sem olhar para o computador, encostar o rosto na palma da mão e perder-se no olhar do paciente, escutá-lo e fazê-lo sentir-se especial no tempo que a consulta demorasse."


"Saltar nua de mãos dadas com o Ernesto para um rio, para um lago, para o mar… sempre que podiam faziam-no."


quinta-feira, 4 de março de 2021

Spoiler alert novo livro

 Sim, já tem título. 

É sempre por onde começo um novo livro. Tenho hábitos de que gosto e enrosco sempre um início na mesma espiral: o título, o que quero contar, as personagens que vão desenhar a minha história, um caderninho para ideias e pesquisas. Pensá-las. Escrevê-las.

Permito aos meus leitores que espreitem alguma personagem por uma porta que deixo entreaberta, um vislumbre através de um esvoaçante véu que não permite propositadamente uma visão abrangente.

A protagonista deste livro será a Teresinha. A sua história de amor maior com Ernesto. Eis como a imagino em vários momentos da sua longa vida. 

"Houve tantas complicações querida bisneta – pensou – ganhos e perdas, preconceito, inveja e lágrimas. Dor. Muita. Inultrapassável. Cair de joelhos no chão e não conseguir ver para além do horizonte. Mas se houve trovoadas, houve o apaziguamento após cada borrasca. Orgulho quebrado, nariz no ar. Afundar e voltar à superfície. Cada conquista com travo amargo-doce transformado num sereno renascer adoçado com canela e açúcar amarelo e sempre a entrega e o muito amor em tudo o que fiz na vida. Sorriu. Tudo se resumia a que estava bem. Sim, era feliz." 


"Teresinha era uma sonhadora – presença assídua nos convívios estudantis, a intrépida miúda que tocava guitarra para os colegas da universidade, sendo de entre as vozes femininas, a mais destacada, criativa e promissora." 

"Já Ernesto, o marido, era um protector – um fervoroso defensor do corporativismo estudantil, sem que isso beliscasse o seu excelente percurso académico, pois fazia parte das cúpulas associativas estudantis, sempre engajado numa nova luta que advogava com vigor, embaraçando o regime, cada vez com mais audácia." 
"Saltar nua de mãos dadas com o Ernesto para um rio, para um lago, para o mar… sempre que podiam faziam-no." 
"tendo por pano de fundo o soberano portão ladeado do antigo muro de granito enleado com as rosas de Santa Teresinha." 



domingo, 14 de fevereiro de 2021

A primeira vez

Hoje é o aniversário deste site. 
Nasceu de uma brincadeira tola no Twitter, em 2009, quando perguntei “Onde posso publicar um texto para lerem?” uma voz disse: 

“Faz um Blog!”

Se eu não queria escrever num Blog, ter um Blog menos ainda! 
Encantei-me com o contacto directo que obtive com os meus leitores! 
Já não é apenas Blog, cresceu a Site – dou a cara e o nome. 
Assim mesmo, de ganga vestido. 
Porquê dia 14 de Fevereiro? 
Não deixa de ser irónico, festejar o aniversário deste meu espaço logo numa data que não tenho grande respeito (porque, a meu ver, namorar, namora-se todos os dias) o blog nasceu com este conto 
veio posteriormente a ser publicado no livro MAL ME QUERO

Hoje ofereço este conto de novo aos meus leitores 


Irene já se tinha esquecido: há muito tempo prometera a si própria que nunca mais sairia à noite num dia de namorados. Mas aconteceu. Com amigas, alheadas da comemoração, na sua nova “solteirice”, combinaram ir todas ao Japonês.
Ao entrarem no restaurante habitual depararam-se com um invulgar burburinho – infernal!, nem conseguiam avistar o dono! Todas as mesas estavam preenchidas apenas com casalinhos, até ao redor da zona Teppan-yaki – coisa que pretendiam – estava ocupada por parzinhos, claro!, restaurante da moda e caíam lá todos que nem tordos na noite de saída!
“Socorro! Saímos no Dia-Oficial-do-Manel-levar-a-Maria-à-rua!!!!” – Brincou. Alguém sugeriu mudar de restaurante, mas não adiantaria àquela hora, sem marcação, estariam todos a transbordar de Manéis&Marias.
Antes, imagina-os:
Olhou à volta. Irene não tinha nada a opor ao amor ou a sua celebração, apenas o que chamava de “Dia Oficial”, uma representação patética do que deveria ser, por definição, celebrado todos-os-dias-e-todas-as-noites-das-nossas-vidas.
O Manel pespega uma beijoca à sua Maria logo pela manhã antes de sair para o trabalho – ela falou tanto nisso na véspera, entre o intervalo do futebol e o creme de noite que ele teve pesadelos do mês sem sexo que sabia, ela imporia, se ele ousasse esquecer…
A Maria, nesse dia sorri feliz, usa roupa nova, vai ao cabeleireiro – muita laca, muito caracol – compra um postal cor-de-rosa já preenchido, tipo-basta-assinar e uma prendinha bem fofinha para o seu Manel pôr no carro – coisa que ele jamais usará ao lado do galhardete do seu clube do coração…
O Manel, mais pragmático, compra o que ela discretamente lhe pediu durante a última semana toda, incluindo, a seguir à beijoca matinal sem sumo.
A Maria papagueia com as suas colegas de trabalho onde poderá ser levada mais logo a jantar. Todas graciosamente fazem crer umas às outras que não sabem o local e/ou a prenda.
O Manel, à tardinha, entre bejecas e tremoços, ri com os amigos que, este dia dos paleios cor-de-rosa, até foi uma coisa bem inventada: é uma noite que seguramente elas não irão passar a ferro até tarde, lhes doerá a cabeça ou terão o período…
A Maria já passou em casa da Mãe, depositando os filhos com um bem disposto: “Até amanhã!”
O Manel foi à florista.
A Maria chegou a casa mais cedo, tomou uma chuveirada e rapou os pêlos.
O Manel passou horas na fila da florista, rosnando.
A Maria passa o gloss mais uma vez pelos lábios ainda bonitos e com pouca procura.
O Manel chega a casa com um previsível ramo de rosas vermelhas, reclama por lhe ter custado 50 euros e, claro, «a» prenda.
Ouve-se na casa do Manel e da Maria uma palavra inusitada: Amo-te
Saem para a rua. Está tanto trânsito como de dia. Vão a um restaurante com folhas de papel branco por toalha.
O Manel pensa: “A TV desligada, que má sorte a minha, espero que alguém repare… se digo alguma coisa, lá se vai a queca.”
A Maria suspira: “Ele vestiu a camisa mais velha, logo hoje… qualquer dia rasgo-a e faço panos para os vidros.”
Irene respirou fundo e olhou em volta enquanto ainda esperavam mesa. Sentiu um ambiente dengoso nas mesas. Não se distinguia a música do ruído. Contrastava a elegância dos pratos deste espaço usualmente relaxante, seguro pela perplexidade serena dos empregados com o frenesim de tão inusitados clientes que até pediam, imagine-se… karaoke.
Irene lembrou-se daquela outra noite, não há tantos anos em que ficara inoculada da noite dos namorados. Presa num extraordinário trânsito para aquela hora tardia, olhou à sua volta: Estupefacta, viu o Manel ao volante com a Maria ao lado em todos os carros! Havia a versão casados-há-muitos-anos visivelmente enfadados pela demora e os namoradinhos que ainda disfarçam hostilidades cortesmente. Olhara para o João, o seu marido, para o seu olhar vazio esperando que o trânsito fluísse. Sentiu um arrepio: era apenas mais um Manel, o que, lamentavelmente, fazia dela mais uma Maria.
Decidida a que o Manel e a Maria não lhe estragariam mais nenhuma noite, olhou de novo à volta, desta vez com a sua firmeza acutilante.
O frete.
Estavam todos a fazer frete! Tinham saído à rua somente porque tinham de fazê-lo!… Todos sorriam complacentemente enquanto gramavam polidamente a estopada.
Todos não.
De indicador em riste anunciou, peremptoriamente, às suas amigas cansadas de estar em pé:
“O único casal a sério nesta sala, é aquele ali do canto.”
“Como sabes?” Perguntara a Bárbara.
“Sei. Sinto. São os únicos que estão a conversar.” Argumentou encolhendo os ombros.
Contrapuseram, estando num restaurante repleto de sons estridentes, com outros pares que tagarelavam demasiado alto.
“Estão apenas a falar. Reparem no olhar, estão apenas a falar, não estão a conversar.”
“Na mesa mesmo atrás de nós estão os piores espécimes de Manéis&Marias – sussurrou rindo a Maria Clara enquanto se sentavam – os broncos!
Olhavam causticamente para trás. Versão cromanhon-namoradinhos, diziam à socapa. Tinham de estar dois pares
à mesa! Claro!… aos pares, se não, com quem é que eles haveriam de conversar???
Sem estranheza, Irene ouviu um dos rapazes protestar bem alto, com os pauzinhos em riste, pedindo talheres de gente, o outro palerma reclamar do peixe estar mal passado, uma das Marias dizer que o gengibre eram «pétalas de flores comestíveis», que «tinha lido numa revista» até ao momento hilário em que um comeu de uma só vez o “pistachio”, urrou que nem um urso que o tinham enganado… sem mencionar a boa parte da noite a ouvi-los contar anedotas pouco edificantes sobre mulheres… que apropriado! – pensou – mas o melhor ainda estava para vir. Quando entrou uma figura típica da noite, empunhando a habitual braçada de rosas, uma daquelas Marias deu uma valente murraça na mesa afiançando ferozmente:
“Eu hoje vou querer uma rosa!!!”
Até os outros Manéis&Marias das demais mesas tiveram dificuldade de suster o riso… Resta acrescentar o que já todos sabíamos, se calhar, até ela: não a teve.
A pouco e pouco todos os Maneis e Marias foram saindo. Era noite de festa lá em casa ou no banco traseiro do carro! Há casais que são abusivos durante todo o ano, seja verbal, física ou psicologicamente, mas Deus os livre de não festejarem o dia dos namorados!
Ficaram embrenhadas na conversa boa e no último sake gelado, depois do ritual de sabores nipónicos numa refeição memorável onde, como manda a tradição, nem um único bago de arroz foi desperdiçado, quando o tema de início de conversa, voltou à baila: As únicas mesas ainda ocupadas, agora sim, naquele tranquilo e prazenteiro restaurante, eram apenas a das amigas e a do tal casal do canto.
Ficaram a reparar e comentar ostensivamente nos detalhes sem que nunca sequer dessem conta. Era a mulher que estava virada na direcção delas. Tal como as amigas, não tinha estreado roupa nova, não tinha ido ao cabeleireiro, não havia nenhuma rosa vermelha do ké-frô na mesa.
Era particularmente bonita, como só uma mulher segura de si consegue pôr um lápis a segurar-lhe o cabelo, vestir uma qualquer t-shirt branca com jeans e… estar bem.
Irene entretanto contava uma situação que ouvira num supermercado na véspera. Estava no corredor dos desodorizantes quando tomou atenção numa frase: “Olha, não tenho ideia nenhuma, pode ser já isto? Ficava já despachada para amanhã.” Irene sorrira ao se aperceber que falavam da prenda para o Dia Oficial. Que romantismo!, claramente uma Maria! Continuando as suas compras, ficou com atenção ao diálogo: “…ou então, pode ser este perfume…?, é que nem sequer é caro!”
O grito masculino ecoou pelos corredores:
“N-Ã-Ã-Ã-O!!!!”
As pessoas, às compras, entreolharam-se, mas ninguém se pronunciou quando a discussão estalou. Num casamento, quem vai meter a colher? Irene também olhou por cima do ombro. Pensou que fossem mais velhos, mas era um casal muito novo, reconheceu a vergonha só no tremor do queixo daquela rapariga que continuava a dizer tontices com ar subserviente enquanto ele lhe virava as costas e a deixava a falar para as prateleiras.
Respeito. A ligeira diferenciação entre um casal e um Manel&Maria.
Quando saíram do restaurante, o casal da mesa do canto continuava a conversar. Nunca deram pelas outras pessoas que tanto os observaram.
Irene deu um último relance ao casal antes de sair.
Apeteceu-lhe, por um momento, que soubessem que eram o seu prémio casal da noite, afinal fizeram-na acreditar que não eram apenas os Manéis e as Marias que saltavam para fora de casa nesta noite… mas, sempre soube que casais como este, não celebra o seu Amor apenas porque algum grupo de comerciantes resolveu importar uma moda que nem é nossa para aumentar um pouco mais as vendas – criaram portanto este pomposo evento a comemorar – leia-se a comprar.
Sorriu ao casal da mesa do canto e pensou, apesar de ter escolhido o divórcio para si, viver a dois, vale realmente a pena – quando vale a pena, respirou fundo e imaginou todos os casais que sabem: alimentar o amor é uma tarefa diária, construtiva, constante… todos-os-dias-e-todas-as-noites-das-nossas-vidas.
Podia estar sozinha nessa noite, poderia continuar sozinha na vida, mas Irene sorriu. Enquanto esperavam para pagar, abriu o seu Moleskine e escreveu: 

“Há, é uma forma diferente de ver e viver a vida, o que nos torna loucos aos olhos dos que levam uma vidinha triste e sem sabor. A nossa, sabe a morangos com chocolate, até, quem sabe, sake e wasabi, se e quando deixamos a parte picante entrar na nossa vida.”


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Rosa

Pressa. 
Distracção. 
Páro no maior parque de estacionamento da cidade, arrumo o carro e saio disparada para a marcação que tinha ao meio-dia. Sou pontual e detesto chegar atrasada. 
Quando regresso, bate-me: não memorizei onde deixei o carro… fila por fila, percorro todo o estacionamento, ando para cá e para lá e a certa altura, porque ia de phones ao telemóvel, comento: está aqui uma senhora ao mesmo, não deve saber onde deixou o carro… 
A senhora ouve-me e encetamos um diálogo, é verdade, também não sabe. 
Gracejo: Vai ver, estão ao lado um do outro! Vamos continuando a procurar e eu continuo na minha conversa telefónica e de repente oiço: achei! Dirijo-me ao som da sua voz respondendo: onde está? Porque o meu deve estar perto!! Rimos e quando chego à beira da senhora com pronúncia do Porto (que eu adoro), responde-me: Que marca é o seu? Eu ajudo-a! 
Tanta delicadeza, penso e respondo-lhe: Ohhh... tão querida!, não é preciso… 
Mas já me interrompe, deixei a minha filha na universidade e vou ficar a fazer tempo, a sério que carro é o seu? Eu digo-lhe a marca e modelo e descrevo o exacto tom de meu – é de um azul celeste cor de dia de trovoada. Agradeço-lhe e começamos à procura. 
 Já adivinharam… estavam lado a lado, com um carro apenas pelo meio! 
 Que momento mágico! Despedimo-nos meio a rir meio emocionadas e lembro-me de me apresentar: qual é o seu nome? Eu sou Ana. 
E a magia continua… diz: eu sou Rosa. 
Não resisto e partilho com ela: Rosa?!?... Rosa era o nome da minha avó favorita! 
Desejamos um bom ano e cada uma segue a sua vida. Nunca mais a irei ver, nem reconhecer – ambas de máscara, como convém em tempos covidianos – a não ser que o acaso queira que a Rosa seja uma das minhas queridas leitoras desta maravilhosa cidade que tão bem me acolhe há 5 anos. 
Mas venho para casa a conduzir feliz num dia tão frio, mas com imenso sol na hora de almoço e na alma quando escrevo este texto. 
Quanta magia pode andar no ar, se estivermos atentos, se nos dermos de coração e nos entregarmos a cada momento. 
Eu sou de dar-me, e nunca me arrependo. Sou de amar e de ser amada. 
Obrigada Rosa. Que tenhas uma vida feliz!





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