Se 2012 nos ensinou uma lição é sobre a atitude diferente a ter em 2013
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Fim do Mundo (tal como o conhecemos)
Foto de José Carlos Carvalho |
É verdade, sou observadora por natureza e atenta a detalhes por definição... basta focar em sinais que sei outros nem vêem, mas para mim estão patentes, nada invisíveis. Reparo nas mãos, atento a olhares, adivinho gestos, oiço conversas, sim sou descarada e cusca, mas elegantemente chamo-lhe de "pesquisa"... mas observar é a minha realidade faz anos, já passar por elas é novidade para mim...
se me torna atenta a detalhes que nem eu via? Ahhhh... esta crise tem vindo a mostrar-se uma enorme lição de vida, para quem consegue ver além do horizonte e tirar essas ilacções.
Ouvir a crónica humorística da rádio de Nuno Markl (a 15 Novembro) sobre papel higiénico (oiça o podcast aqui) ganha uma outra dimensão ao tomar atenção de passagem numa conversa entre duas pessoas que comentam qual a loja onde se consegue encontrar 12 rolos a apenas 1€
ou quando uma amiga emagrece e fica tão gira, e fica de sorriso triste quando a cumprimentam, quem vai pensar que a perda de peso está relacionada com a falta de alimentos essenciais que deixou de poder comprar?,
ou quando vemos alguém passar mal no trânsito apenas porque a polícia o mandou parar, vamos pensar que o carro anda sem seguro e morre de medo de ser apanhado?,
ou quando reparamos em telemóveis de última geração com mil e uma funcionalidades menos com a primeira por definição - telefone - apenas porque o dono não tem saldo e não usa o aparelho para esse fim?
Convenhamos, a classe média não estava preparada para o que está a acontecer, antes foi educada para conjugar o verbo prosperar: fazer por estar bem na vida, para um dia cuidar dos seus idosos, para vir a mimar os seus netos, para mais tarde, quando a reforma chegar, poderem finalmente usufruir e fazer tudo aquilo que uma vida de trabalho os privou, cristalizando para o eterno “um dia mais tarde” que sabemos hoje, chegará mais tarde que o Dom Sebastião em dia de bruma. O que até há pouco tempo se considerou bens essenciais no que fomos habituados a considerar uma boa vida, são agora minimizados ao que era essencial no tempo dos nossos avós e o que dávamos como garantido, passou a ser luxo, supérfluo e impossível de manter. Com a queda do poder de compra da classe média, caiu de caras uma forma de viver que todos reconheciam como impossível de mudar e contudo, de uma forma ou de outra, a estamos a reinventar.
Se o ‘cair do cavalo’ dói e o levantar, sacudir e montar de novo fica cada vez mais difícil, eu acredito que esta queda colectiva está a dar direito a um acordar de uma consciência que não havia. Será que este vem a ser o anunciado fim do mundo? Eu acredito de verdade que é o fim do mundo como o conhecíamos. Observo que com a crise veio de mão dada uma generosidade escondida, aquele tranquilo bem-querer que, sabemos, o nosso povo português é tão atento. Vejo pessoas dar quando não têm para ter, e essa é a lição mais bonita que posso tirar.
É possível viver sem dinheiro? É. É credível esbanjar nos dias de hoje? Nem que o quiséssemos… já não há como! Reaprendemos a distribuir, a partilhar, a emprestar, a devolver, e voltam à tona de água princípios que os nossos avós e pais nos ensinaram, mas estavam postos de lado numa qualquer sombria arrecadação, junto com os serviços de porcelana herdados das bisavós.
Acredito que estamos perante o fim de uma era, será o fim desta forma de estar, de fazer, de encarar das relações entre os seres vivos, até pelo (des)respeito para com o planeta, tal como o vivemos em modo desprendido que vejo agora cessar, que após toda essa tempestade que nos assola, outros bons ares da bonança se quedem tranquilamente, nos façam ver outros caminhos, se fechem ciclos e necessariamente se abram outros, já que desistir, ahhhh!... esta malta não é disso!
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
em resposta a MRP
clique aqui para ler entrevista |
«Somos para aí umas quatro ou cinco [ser-se loira e ter atitude em Portugal]» Somos? Ahhh!! e a senhora inclui-se!!, e só quatro ou cinco...?
Esta, de tantas outras frases da senhora, indignou-me. Anedotas de loiras burras ou de alentejanos servem para o que servem - ser divertidas -, mas esta afirmação é, quanto a mim, pouco anedótica, grotesca e uma ofensa para tanta mulher de cabelo claro que consegue a proeza de ser inteligente, quiçá gordinha e ainda é uma porreiraça. Admira-me a senhora, que se diz observadora, passar uma borracha mental pela existência destas muitas loiras. E veio-me à ideia, convidar umas quatro ou cinco ruivas - das muitíssimas inteligentes e de bem com a vida que existem - umas quatro ou cinco que conheço a fazerem um texto em defesa das injustiçadas loiras. Em nota de rodapé, devo acrescentar que me destaco da postura da senhora – não o faço sempre…? –, já que das quatro ruivas que escolhi, não tive o descaro de me incluir como a quinta essência...
E já que é a primeira vez que escrevo publicamente sobre a senhora de quem sou uma não-leitora confessa e assumida (tanto livro bom para ler, autores de excelência a descobrir ou a revisitar e tão pouco tempo para o conseguir nesta vida), quero realçar que, para mim, sinto o trabalho da senhora como supérfluo, desnecessário e não-querido porque me desencanta ao que reduz a condição humana, ainda assim apreciei ler que tenha essa consciência e tenha respondido o seguinte: “Esta minha compulsão de estereotipar, analisar, classificar e perceber quem me rodeia – e que às vezes me faz tirar conclusões muito erradas sobre as pessoas e o género humano…”
E já que é a primeira vez que escrevo publicamente sobre a senhora de quem sou uma não-leitora confessa e assumida (tanto livro bom para ler, autores de excelência a descobrir ou a revisitar e tão pouco tempo para o conseguir nesta vida), quero realçar que, para mim, sinto o trabalho da senhora como supérfluo, desnecessário e não-querido porque me desencanta ao que reduz a condição humana, ainda assim apreciei ler que tenha essa consciência e tenha respondido o seguinte: “Esta minha compulsão de estereotipar, analisar, classificar e perceber quem me rodeia – e que às vezes me faz tirar conclusões muito erradas sobre as pessoas e o género humano…”
Uma loira não encerra em si mesma, apenas e porque a senhora o escreve, a magreza, altivez e atitude de uma Barbie. Abram-se os horizontes, faça-se o downsizing da petulância e tentemos pôr-nos de verdade nos sapatos de outras vidas se realmente nos afirmamos observadoras da vida que nos rodeia.
A minha cor de cabelo é
mais inteligente que a tua!!
por Isa Silva
Periodicamente, vem à baila esta história de que a cor de cabelo tem um impacto considerável na inteligência feminina. Sim, vou falar só da parte feminina porque não se chama louro burro a nenhum homem e é evidente que a cor de cabelo nos homens não interessa nada a ninguém e muito menos dá tema para crónicas. Na verdade, não se escrevem anedotas, livros ou filmes a falar de louros burros. Hahh... mas no caso das mulheres essa cor de cabelo é fortemente atacada! Devo salientar de que não sou loura. Mas confesso que em muitas ocasiões gostava de ser loura burra só para me preocupar com futilidades. Sou orgulhosamente RUIVA, fruto de uma costela escocesa extremamente activa. Cabe-me, nesta altura, colocar a seguinte questão: Qual será o nível de inteligência de uma ruiva? Maior que uma morena? Menor que uma loura? Invulgar? Limitado? Aceitável? Colorido? Incorrigível? Misterioso? As teorias e pensamentos do fútil não fazem parte das qualidades da inteligência. Cheguei à conclusão que ser loura dá muito trabalho. São bombardeadas por todos e ainda lhes tiram a inteligência. Não é uma situação fácil de lidar. Mas dizer que há apenas 4 ou 5 louras inteligentes em Portugal também não é sinal de grandes faculdades intelectuais. Ser ruiva é bem mais fácil. Temos a vida toda facilitada! Não estamos na cor com défice de inteligência, temos reacções do sexo oposto ao mesmo nível daquela cor de cabelo que já falei e ainda ganhamos aos pontos em irreverência e destaque no que respeita ao team da cor de cabelo mais escura. Resumindo: as ruivas vivem num mundo de esplendor. É? A sério?? Ainda não me apercebi disso... Tudo isto leva-me a questionar o que sucederá a quem tem mais do que uma cor de cabelo. Dualidade de inteligências? Bipolar de pensamento? Dupla personalidade cerebral? Nunca consegui ter uma resposta cabal a esta questão. Continuo a não entender porque é que o aspecto físico é determinante para a capacidade de ser ou não inteligente. Não é a cor de cabelo que rege a capacidade do cérebro. Quando se padece de carência inteligencial, vulgo "sem cérebro", não há cor de cabelo que salve!!! A inteligência é a aceitação da imperfeição como uma componente da vida. Qualquer tipo de discriminação ou preconceito é a mais clara demonstração de falta de inteligência. E agora vou arejar os meus caracóis ruivos porque já estou a deitar fumo pela cabeça de tanto esforço mental. Com licença...
Downsizing, desenvolvimento infantil
e outras coisas assim…
por Rute Silva
Nos últimos anos tem sido o downsizing “do camano” aqui por estas bandas que até mete impressão. Ele é downsizing dos subsídios, downsizing da educação, downsizing da saúde, mas, nada disto me tinha preocupado até ler na entrevista da Famosíssima Escritora Portuguesa, (fantasticamente loira, como não poderia deixar de ser) que esta tomou a decisão de fazer um downsizing no seu lifestyle. Mas como é que chegamos a este ponto!?!?!?
Confesso que teria ficado muito feliz se o jornalista tivesse feito um downsizing da entrevista …
Bem, o que mais me irrita na dita entrevista é a deflexão! Mas a senhora não sabe dar uma resposta direta? Tem de se esconder em perguntas, pior na repetição das perguntas? Bem sei que se assume filha de uma psicóloga (não pode ser fácil) e de um biólogo … e acho que é aqui que está o cerne da questão:
Aposto que este pai, biólogo, faz jus ao preconceito do cientista aluado, calmo, reservado… E a mãe psicóloga será terá uma personalidade forte e, quiçá, manipuladora. Não é fácil ser menina nestas condições … no desenvolvimento infantil, o papel do pai é preponderante. Para os meninos ele tem de ser um “rei”, vigoroso e arrebatador que não deixa o “príncipe” conquistar a princesa, no caso das meninas, ele tem de ser capaz de não se enamorar pela “princesa” deixando claro quem é a “rainha” … mas sempre no controlo da situação. Ora se esta “rainha” não se deixou ser comandada, minou, à partida, a imagem de uma relação normal entre um homem e uma mulher … e está explicada a completa falta de jeito para a descrição das relações humanas que a mais vendida escritora feminina tem.
Quem leu as crónicas dela na Maxmen (a revista que os homens gostam) sabe o que falo, ela é o estereotipo da “barbie” que quer agradar aos homens (e isto explica a raiva que tem da mulher que ela retrata numa outra crónica, como “a gordinha”), que acha que ser uma mulher independente é banalizar o sexo, beber “como gente grande” e não ter namorados, ter amigos. No fundo, imagino-a bem submissa … bem sensaborona.
Mas quero ir mais longe e analisar porque é que ela tem a recorrente necessidade de diminuir a mulher. Imagino que seja a sombra da Super-Mãe e das Super-Avós que descreve no seu discurso, completamente infalíveis ao ponto de nunca serem vistas, nem na intimidade, de pantufas!?!?! Meu Deus! Que peso enorme viver assim! Explica sem dúvida a escolha da tonalidade da cor do cabelo, da extrema magreza e da necessidade de se elevar a uma posição de mulher forte e independente.
Em jeito de conclusão, aquilo que se pretendia ser um ataque à estupidez humana imortalizada na entrevista do ionline, acabou por ser o meu primeiro ataque aberto aos pais. Que seja um alerta para o mal que podemos fazer, consciente ou não, aos nossos filhos …
Medo … muito medo!
Curta e Fina!
por Sónia Handel Oliveira
Isto nem é para a Margarida ler, trata-se de uma crítica, logo está-se nas tintas para elas, não é? Nós os Gémeos somos assim! Quem nunca ouviu a expressão, “mais vale cair na graça do que ser engraçado”? A sua falta de humildade serve apenas para mascarar a falta de talento. Comprovado pela audácia em se comparar com a Dra. Estela Barbot (conselheira do FMI), Paula Teixeira da cruz (altamente reputada no mundo jurídico, académico ou não), ou mesmo Teresa Caeiro ou Joana Amaral Dias (a 1ª deputada do CDS-PP e a 2ª do Bloco de Esquerda), e limitar a inteligência e atitude a apenas algumas mulheres. Não conhece mais ninguém ou acabou-se-lhe a tinta da caneta. Não acredito que as mesmas pensem o mesmo dela. Foi um comentário muito Infeliz. Lamento que o público-alvo desta escritora sejam os adolescentes e lamento mais que os mesmos possam ser de alguma forma influenciados. O negócio corre-lhe bem com a escrita "Pop", mas eu continuo achar que tem uma veia mais eficaz para a música. Adorada por uns, odiada por outros e pelo andar da carruagem Ignorada por todos. Não foi o que fiz a pedido da Ana, mas será o que farei de agora em diante. Alguém uma vez disse e aqui subscrevo: "Talento sem humildade é arrogância e talento sem inteligência é farsa."
Primeiro contato: uma análise literária.
Segundo?! Curiosidade, e se tem algo que me chateia muito é desperdiçar tempo de uma leitura proveitosa, lendo expectativas, e com todo respeito, até uma adolescente escreveria aquelas mal fadadas linhas.
Não houve e nem vai haver outros contatos, porquê?! Por vários motivos, mas o mais forte de todos é o fato de se tratar de uma escrita simples, repetitiva (de um livro para outro) e também pelo fato da escritora ser uma pessoa extremamente prepotente, isso mata qualquer livro.
Não digo isso com olhares de uma crítica, muito menos de uma professora, mas sim com o olhar de uma leitora, que quando pega o livro quer se sentir desacomodada, mexida... os dois livros lidos não mexeram comigo, são textos encontráveis em tantos outros gêneros por aí – crônica (ler uma crônica com essa simplicidade é bom, é gostoso, pois sempre há algo com o que se identificar na crônica, visto que o papel dela é retratar o diário e como afirma um teórico do gênero “ela é pra ser lida em um dia e no outro servirá para embrulhar sapatos”); conto (pouco mais extenso, mas ainda é um lugar cabível pra esses temas – dos livros que li – ) agora, um romance, pense em um livro com mais de 150 páginas, com linhas simples, frases banais, que poderiam ser ditas no afã de uma conversa de bar, ou até mesmo na cama, pois é... é a isso que se resume a escrita dela.
Como prova, eis aí um trecho do livro (não recordo de que página tirei isso, sim estava anotado em minha agenda de trechos para trabalhos e afins, e por favor não perguntem o porque fiz isso):
“Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter conosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.” In Diário da tua Ausência.
Creio que não preciso dizer mais nada... ah! Preciso sim, no início eu iria compará-la a um escritor brasileiro, provavelmente conhecido por aí também, Paulo Coelho, porém achei melhor não, porque, embora o Coelho tenha essa escrita tendenciosa (engodo pra fazer ler outros livros) e simples, ele escreve autoajuda (¬ ¬ reforma ortográfica sua feia!), e eu estaria caindo no precipício de comparar romances contemporâneos a uma “subliteratura”, só para fins de comparação de escrita, um trechinho de Coelho (busquei na internet, pois não o leio mais):
“A possibilidade de realizarmos um sonho é o que torna a vida interessante.” Paulo Coelho
Enfim moços e moças, espero ter retratado um pouquinho de minha angústia enquanto leitora e espero que quem já tenha lido e gostado, siga lendo, pois gostos cada um tem o seu e o meu é chato ^^!
Ah os livros lidos: Diário da tua ausência e O dia em que te esquecia. E se alguém já leu o Minha Querida Inês me informa se vale leitura, confesso que pelo título fiquei curiosa, mas pela escritora me desmotiva a pensar em ir atrás do livro.
Beijitos do outro lado do oceano...
Luh
por Paula Valença
Nasci com cabelo castanho em Oxford, Inglaterra. Castanho claro, que castanho só não chega. Liso. A puberdade trouxe os caracóis - não havia secador que controlasse a personalidade do meu cabelo e lá convenci a minha mãe a desistir da maquineta. Ainda hoje não tenho paciência para secadores. A puberdade também trouxe aquela certeza que a minha vida não ia ser só Portugal. Não que não gostasse de Portugal, mas com um Mundo tão grande, com tantas experiências fantásticas, porque raios não havia de vivê-las? Na minha mente ingénua não havia barreiras e muito menos fronteiras. Ao longo da vida pintei o cabelo de tantas cores que perdi a conta. Na universidade e na Internet era conhecida como "a Loirinha". Desci ruiva a túneis onde os primeiros momentos do Universo são recriados. De cabelo azul rabisquei formulas criptográficas com as melhores mentes na área. Tinha cabelo preto quando escolhi ser visível na minha bissexualidade por todas as pessoas que não o podiam ser e contribuir para tornar as suas vidas melhores. Atravessei países de comboio, avião e carro com cabelo lilás. Mudei de pais, de emprego, de vida, e o cabelo lá ia mudando. O cabelo neste momento é vermelho e bem vermelho. Em reuniões ou eventos profissionais é usado por vezes numa piada para quebrar o gelo ou numa abertura para uma conversa. Mas rapidamente o assunto vai para o que interessa e são coisas bem mais importantes que o meu cabelo. O que interessa os meus foliculos quando se trabalha em problemas que afectam o mundo? Mas eu não sou Sansão: a minha força não vem do cabelo vermelho. Nem do ser mulher, feminina ou arrapazada. Ou Portuguesa. Sinceramente não sei de onde vem, mas abraçar tudo o que sou ajuda, oh ajuda. Ser Mulher não define barreiras nem fronteiras. Mentes fechadas que formatam pessoas para algo que lhes é estranho, sim.
por Paula Valença
Nasci com cabelo castanho em Oxford, Inglaterra. Castanho claro, que castanho só não chega. Liso. A puberdade trouxe os caracóis - não havia secador que controlasse a personalidade do meu cabelo e lá convenci a minha mãe a desistir da maquineta. Ainda hoje não tenho paciência para secadores. A puberdade também trouxe aquela certeza que a minha vida não ia ser só Portugal. Não que não gostasse de Portugal, mas com um Mundo tão grande, com tantas experiências fantásticas, porque raios não havia de vivê-las? Na minha mente ingénua não havia barreiras e muito menos fronteiras. Ao longo da vida pintei o cabelo de tantas cores que perdi a conta. Na universidade e na Internet era conhecida como "a Loirinha". Desci ruiva a túneis onde os primeiros momentos do Universo são recriados. De cabelo azul rabisquei formulas criptográficas com as melhores mentes na área. Tinha cabelo preto quando escolhi ser visível na minha bissexualidade por todas as pessoas que não o podiam ser e contribuir para tornar as suas vidas melhores. Atravessei países de comboio, avião e carro com cabelo lilás. Mudei de pais, de emprego, de vida, e o cabelo lá ia mudando. O cabelo neste momento é vermelho e bem vermelho. Em reuniões ou eventos profissionais é usado por vezes numa piada para quebrar o gelo ou numa abertura para uma conversa. Mas rapidamente o assunto vai para o que interessa e são coisas bem mais importantes que o meu cabelo. O que interessa os meus foliculos quando se trabalha em problemas que afectam o mundo? Mas eu não sou Sansão: a minha força não vem do cabelo vermelho. Nem do ser mulher, feminina ou arrapazada. Ou Portuguesa. Sinceramente não sei de onde vem, mas abraçar tudo o que sou ajuda, oh ajuda. Ser Mulher não define barreiras nem fronteiras. Mentes fechadas que formatam pessoas para algo que lhes é estranho, sim.
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