de 31 maio 2011
Hoje trago: o meu próximo livro
JV – Esta “temporada” do Mesinha de Cabeceira termina hoje. A nossa Ana Martins vai-se "retirar" - os escritores precisam de tempo e espaço para escrever outros livros.
Assim, pensamos dar a conhecer aos nossos ouvintes, nesta nossa última crónica desta temporada um pouco do making of, do que se passa na cabeça de um escritor, antes de um livro sair nas livrarias e ir parar às nossas mesinhas de cabeceira. É um momento que os leitores têm uma natural curiosidade – como se processa a execução de um livro?
AM – Não há uma norma para todos os escritores. Cada um terá seus rituais e hábitos, há autores muito regrados e focados na rigidez de número de horas de trabalho e outros não. No meu caso, quando me sento a escrever, faço-o com alguma celeridade, uma vez que o livro já está todo na minha cabeça, penso-o, alinhavo-o, pesquiso-o e sei o que vou escrever. Se tenho alguma ideia nova no decorrer da escrita, seja para personagem seja para o enredo, aceito-a, deixo fluir, mas se sair muito do meu projecto inicial, acabo por cortar, a não ser que seja uma boa ideia que me faça pensar em abandonar aquele caminho que inicialmente elaborei. De todas as formas, todos essas maneiras de escrever, da mais regrada à mais livre são viáveis e exequíveis quando se fala de processo criativo. Para o leitor conta o todo, a obra, não o que o autor fez para a tirar dentro de si. Há aquele mito urbano que o escrever é um processo muito solitário, mas eu prefiro chamar-lhe apaixonante e criativo.
JV – Já tem título, o teu próximo livro? Podemos saber ou ainda não revelas?
AM – Não vou revelar, apesar de o projecto já ter nome, aliás, a título de curiosidade, devo dizer que ainda quando estou a delinear o esqueleto de um projecto, em algum momento nasce a ideia de título e em nenhum dos meus livros, mesmo que durante todo o processo pense eventualmente em lhe dar outros títulos, a escolha recaiu sempre sobre a primeira opção. Ou seja, posso dizer que começo um livro pelo título.
JV – Ao que sei, este novo projecto já te acompanha há algum tempo uma vez que é o segundo romance da triologia sobre autismo, que novidades podes revelar sobre as mesmas personagens?
AM – Neste livro vou mudar o narrador e com isso a forma de olhar sobre as mesmas personagens. Se no 1º livro era o Xavier o narrador, desta vez é o Zé João que nos toma pela mão, nos guia pela casinha do 24 para sabermos como está esta família que os leitores já sentem como sua. Passaram 5 anos. O Xico terá 18 anos e toda a problemática inerente a esta idade. Haverá novas personagens e não vou contar como estão os relacionamentos amorosos entre as personagens, nem o que lhes vai acontecer nesta nova fase. Posso dizer que haverá no ar um grande conflito emocional. Todas as personagens principais neste livro terão um segredo inconfesso (que não sabem ser o mesmo entre si) mas é visto com um diferente olhar e forma de agir por cada uma das personagens.
JV – Se comparamos o teu livro “Autista, quem...? Eu?” com o romance que estás a escrever é só uma continuidade cronológica ou também uma evolução na escrita?
AM – Penso que a cada livro que escrevo há evolução, a mão muda, apuro um estilo muito próprio. E embrenho-me mais nas personagens (não consigo conceber a ideia de uma personagem só para encher) e todas têm o seu espaço e razão de ser. No caso, as mesmas personagens do 1º livro aparecem-nos 5 anos depois no 2º e não é só o tempo cronológico que avança, as personagens tal como as pessoas evoluem, amadurecem, crescem. Daí a mudança do narrador faz com que a visão que darei a este livro seja necessariamente diferente. Gosto disso – de ousar, inovar, criar!
JV – Sendo uma trilogia, já pensaste o 3º livro também?
AM – Sim, é claro. Foram pensados os 3 livros logo de início. Se no 1º o Xico tem 13 anos e falo do tempo da puberdade, neste com 18 anos vou abordar o final da adolescência, quando a escola para estes jovens acaba e as repercussões no seio familiar da entrada na idade adulta. Já no 3º livro o Xico terá 30 e tal anos, a narradora será outra personagem – a mãe – que finalmente escreverá o seu livro, as memórias do tempo de gravidez e primeiros anos do seu filho Xico. Este 3º romance será um brincar com o making of do livro da personagem. Usei esta fórmula para não ser um romance de uma mãe que conta sobre o filho autista. Esta personagem já o público conhece e está já com o distanciamento necessário (30 anos) para não o escrever de forma lamecha. Isso seria de crucial importância para mim, uma vez que estas personagens vivem o autismo do Xico de uma forma natural e saudável.
JV – E poderemos ler cada livro em separado sem precisarmos de ler todos?
AM – Sim, são obras independentes. As mesmas personagens, mas em diferentes momentos de suas vidas.
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