quinta-feira, 1 de outubro de 2015

uma coisa, antes que ligues

Antes que telefones, queria dizer uma coisa. 
Pedro, queria escrever um texto positivo, gostaria tanto que me relatasses cenários diferentes, mas sei, sabemos, que não seriam reais, não o que milhares de pessoas estão a viver a cada preciso momento que todos respiramos, estão privadas da sua liberdade, da sua dignidade, do que todos nós deveríamos ter por direito, assim o afirmam tantos papéis em gabinetes, fechados em gavetas e em quadros decorados pendurados pelas paredes. onde fica a acção real? saber que tantas crianças, famílias - as inteiras e as desfeitas - as que me contas ao telefone, as que os teus companheiros de viagem, um filmou, outro falou à rádio, outra publicou na revista, outro fotografa de modo tão tocante, todos partilham o seu olhar pungente do que têm observado - e mais - do que aí têm efectivamente feito, para que todos, todos nós que estamos de olhos postos na vossa viagem, nós que vos escutamos siderados e de coração nas mãos, façamos por fim, unidos, movidos pela mesma vontade de fazer algo mais que os gabinetes permitem, como dizem - até ver. 
Pedro, na estação de Viena de Áustria, aí onde a clausura acaba e o nada acontece, este 'até ver' magoa-me os sentidos, porque enquanto durar um até ver cinzento de gabinete, tu observas a criança que viste urinar-se pelas pernas abaixo porque nem casa de banho tem para ir.
E antes que ligues, porque não vais ter uma coisa bonita para me contar para eu escrever, deixa-me dizer-te: as crianças, sendo que são o futuro da humanidade, estas crianças todas - as nossas no conforto das suas casas e escolas, das que vêem imagens na net e tv e fazem perguntas, daquelas bem incómodas que fazem os pais rolar os ditos cujos no sofá e chutar para canto mudando para o canal infantil, às que estão informadas porque os pais escolhem explicar, até às ao outro lado da Europa, as que tens visto, conversado, relatado, e ainda às que guardas contigo e (ainda) não conseguiste partilhar, tudo o que estas crianças todas estão a viver as faz crescer num sentido diferente de outras gerações.
E quero muito acreditar que não será só na próxima geração, caramba!, estes pais não carregaram os seus filhos, se fizeram à estrada, e mais ainda mar adentro, por outro motivo se não o de acreditarem, na Esperança que na outra margem da vida, ela aconteceria. Como na música do Rodrigo Leão - coeur, fais ton chemin, l'amour est beau, il est partout, rêver sourtout. 
Eu quero acreditar que todo este adiar de até ver e inconseguimentos perpétuos não vão manchar o Sonho. o poeta não dizia que é assim que o mundo pula e avança?
E Pedro, deixa-me ainda dizer-te, já que estás quase a ligar-me, que temos visto acontecer uma coisa linda com toda a movimentação da vossa viagem. É um acordar... olha, é como lhe queiram chamar! Eu? escolhi chamar-lhe simplesmente de AMOR. e está a acontecer! é este despertar de consciências, este levantar o cu do sofá e 'bora lá! que está a suceder à nossa volta num momento paralelo ao de guerrilhas em campanhas eleitorais esvaziadas de sentido, é um toque arrebatado a reunir, um dar as mãos, e já nem é o embora fazer, mas o estamos a fazer!!! está a acontecer, vejo e leio um bocadinho por todo o nosso Portugal. e é tão bonito, tão comovente!!! somos um país de brandos costumes? sim, seremos, mas somos gente aguerrida e sã, generosa, voluntariosa e muito, muito hospitaleira. 
Pedro a todos e todas vós que embarcaram com o Nuno Felix nesta viagem, estou-vos tão grata!!! 
O meu telefone toca. 
- Olá! 'tás bem? Eu 'tou bem. Muito rápido.


Se quiser e puder, ajude nos custos da viagem do carro do Pedro Lapa pelo
NIB 0035 0836 0069 2517 3302 6 
Grata e bem hajam!!! 


1 comentário:

oksoueu disse...

Ana, até ver...o sonho não vai morrer!grande grande abraço para vocês que são tão lindos e HUMANOS!
Maria B.

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