sexta-feira, 20 de março de 2015

Livro Autista 2 - o recomeço

Espicaçando(-me) na retoma de um romance que me vi impossibilitada de escrever por tantos anos, o que os meus leitores continuam a pedir, a esperar pacientemente que o faça, entendendo contudo as minhas motivações (absolutamente pessoais) para o ter interrompido por tantas vezes, tantos recomeços falhados, é uma decisão corajosa, eu sei e sinto-a feroz.
Está-lhes prometido e sei que algum dia o retomarei, seja com mais ou menos distanciamento da minha difícil vida de mãe de autista para me entregar nos braços da ficção sem real ligação à vida que continuará a correr no processo.

Sei o que quero escrever, sei da veemente pressão que tenho no lado real para conseguir deixar espaço à escritora para pensar. O livro em si - de resto a trilogia diria antes - está pensada há anos, desde o primeiro livro AUTISTA, QUEM...? EU? Se prova alguma coisa? Não. Uma coisa é ele estar todinho na minha cabeça, outra, estar no disco rígido. Pode ser um processo real de 15 dias como foi o primeiro, ou como este, que tem demorado anos a sair e estavam igualmente prontos, escritos cá dentro.
Decidir assim, em vésperas de mais um período de férias da Páscoa, faz-me sorrir e pensar que sou completamente doida, mas doidinha estou eu por não escrever. O formigueiro na ponta dos dedos asfixia-me a alma, sufoca-me a garganta num grito calado e preciso, simplesmente recomeçar, retomar uma paixão que tenho deixada afónica, não esquecida, nem adormecida, mas dormente em mim. 
Outro dia numa apresentação falava como me é fácil escrever. É verdade. Sempre foi. Talvez a minha estúpida coerência que não se foi embora com a idade, antes a agudizou, não me deixou prosseguir nos dois temas/livros que tenho igualmente escritos na minha perturbadora mente que não se cala a gritar-me: primeiro este! Poderia ter-me liberto e escrito qualquer um dos outros, qualquer um outro, mas não. Tem de ser a continuação do Autista. Porque tem de ser. Tem de sair de mim. Sei que vou rir e chorar e mais provavelmente vomitar muito até chegar ao bonitinho cenário da mesa de autógrafos que todos anseiam. Este processo visceral e é só meu - vá, desejo muito não atacar a cozinha e engordar 10 kgs - neste tempo que continuará real, nem posso chamar de "preguiça" um estar que não retomo por envolver tantas emoções contraditórias e violentadas em mim. 
Quem sabe? Gritar por uma ajuda concreta, não consigo fazê-lo mais. É um canso, como diz o Pedro. Provoca um desgaste no plano real que me paralisa o criativo. E disso também me canso. O formigueiro. Quem sabe escrevendo vem a libertação. Que os fantasmas assassinam-se na catarse do papel. 
O meu cadeirão lindo chegou - obrigada querido amigo!! - é fruto de uma troca bem gira (das muitas que faço na vida real para viver neste mundo desprovido de dinheiro). Neste caso escolhi um cadeirão colonial em 2ª mão que namoro há séculos e no qual tantas vezes sonhei sentar-me confortavelmente de portátil no colo e simplesmente escrever. Não é mais um anseio. Já o posso chamar de meu. Já o posso fazer, até porque, desta vez, e tendo de novo um outro novo velho computador que espero que o Pedro não parta (e sim, aprendi a (res)guardá-los aos fins-de-semana, feriados e férias escolares quando o meu filho está comigo em casa) - obrigada a outro querido amigo que me telefonou dizendo: estás em casa? Já conseguiste computador? então desce em 10 minutos que passo aí - quero sentar-me no meu cadeirão novo com o meu portátil e retomar o projecto parado em mim. 
E por fim, o clique. Também espicaçada pelo começo de um novo equinócio abençoado por um derriçoso eclipse de Sol e Lua, parece(-me) bem fascinante, até para uma alma preguiçante, se permitir a gana de voltar a escrever.


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