quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Fim do Mundo (tal como o conhecemos)

Foto de José Carlos Carvalho 
A reportagem da Revista Visão saiu (pode ver aqui a versão online) com o título "Sem água, sem luz, sem gás" da jornalista Patrícia Fonseca e do fotojornalista José Carlos Carvalho, e acredito que não tenho sido pêra-doce (para ambos) comporem este trabalho que denota a sensibilidade com que trataram cada um dos casos. Não é um tema fácil, mas vamos lá - até me sinto capaz de escrever um post na minha página de Facebook!! - poderia ironizar satirizando as palavras proferidas pelo Presidente da República, se não sentisse o maior respeito por quem me lê.


É verdade, sou observadora por natureza e atenta a detalhes por definição... basta focar em sinais que sei outros nem vêem, mas para mim estão patentes, nada invisíveis. Reparo nas mãos, atento a olhares, adivinho gestos, oiço conversas, sim sou descarada e cusca, mas elegantemente chamo-lhe de "pesquisa"... mas observar é a minha realidade faz anos, já passar por elas é novidade para mim...
se me torna atenta a detalhes que nem eu via? Ahhhh... esta crise tem vindo a mostrar-se uma enorme lição de vida, para quem consegue ver além do horizonte e tirar essas ilacções.
Ouvir a crónica humorística da rádio de Nuno Markl (a 15 Novembro) sobre papel higiénico (oiça o podcast aqui) ganha uma outra dimensão ao tomar atenção de passagem numa conversa entre duas pessoas que comentam qual a loja onde se consegue encontrar 12 rolos a apenas 1€
ou quando uma amiga emagrece e fica tão gira, e fica de sorriso triste quando a cumprimentam, quem vai pensar que a perda de peso está relacionada com a falta de alimentos essenciais que deixou de poder comprar?,
ou quando vemos alguém passar mal no trânsito apenas porque a polícia o mandou parar, vamos pensar que o carro anda sem seguro  e morre de medo de ser apanhado?,
ou quando reparamos em telemóveis de última geração com mil e uma funcionalidades menos com a primeira por definição - telefone - apenas porque o dono não tem saldo e não usa o aparelho para esse fim?
Convenhamos, a classe média não estava preparada para o que está a acontecer, antes foi educada para conjugar o verbo prosperar: fazer por estar bem na vida, para um dia cuidar dos seus idosos, para vir a mimar os seus netos, para mais tarde, quando a reforma chegar, poderem finalmente usufruir e fazer tudo aquilo que uma vida de trabalho os privou, cristalizando para o eterno “um dia mais tarde” que sabemos hoje, chegará mais tarde que o Dom Sebastião em dia de bruma. O que até há pouco tempo se considerou bens essenciais no que fomos habituados a considerar uma boa vida, são agora minimizados ao que era essencial no tempo dos nossos avós e o que dávamos como garantido, passou a ser luxo, supérfluo e impossível de manter. Com a queda do poder de compra da classe média, caiu de caras uma forma de viver que todos reconheciam como impossível de mudar e contudo, de uma forma ou de outra, a estamos a reinventar.
Se o ‘cair do cavalo’ dói e o levantar, sacudir e montar de novo fica cada vez mais difícil, eu acredito que esta queda colectiva está a dar direito a um acordar de uma consciência que não havia. Será que este vem a ser o anunciado fim do mundo? Eu acredito de verdade que é o fim do mundo como o conhecíamos. Observo que com a crise veio de mão dada uma generosidade escondida, aquele tranquilo bem-querer que, sabemos, o nosso povo português é tão atento. Vejo pessoas dar quando não têm para ter, e essa é a lição mais bonita que posso tirar.
 É possível viver sem dinheiro? É. É credível esbanjar nos dias de hoje? Nem que o quiséssemos… já não há como! Reaprendemos a distribuir, a partilhar, a emprestar, a devolver, e voltam à tona de água princípios que os nossos avós e pais nos ensinaram, mas estavam postos de lado numa qualquer sombria arrecadação, junto com os serviços de porcelana herdados das bisavós.
Acredito que estamos perante o fim de uma era, será o fim desta forma de estar, de fazer, de encarar das relações entre os seres vivos, até pelo (des)respeito para com o planeta,  tal como o vivemos em modo desprendido que vejo agora cessar, que após toda essa tempestade que nos assola, outros bons ares da bonança se quedem tranquilamente, nos façam ver outros caminhos, se fechem ciclos e necessariamente se abram outros, já que desistir, ahhhh!... esta malta não é disso!

 


1 comentário:

Gisela disse...

Deixaste-me emocionada, não consigo comentar. Apenas sentir a mesma tristeza por assistir a tantas dificuldades mas também ter sempre presente que a luzinha lá no fundo, muito no fundo, não se apaga nem mse pode apagar, porque é o que nos faz lutar!
Beijo grande miúda!!
Gosto de te ver com "ganas" de lutar!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...