sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Anita

O meu livro «EVO» está a chegar à segunda edição, e pensei colocar aqui as duas personagens, uma de cada vez. E é com grande emoção que faço estes dois post.
Art Of Noise - Moments In Love
Começo pela Anita. Apesar de ser uma personagem 'biografizada', hoje sou uma mulher diferente e principalmente sinto diferente da menina tímida que reconheço nesta foto com 20 anos. Fecho os olhos e no meu imaginário de autora não deixo de a sentir equidistante do meu eu, mas suspensa na voz de timbre meigo, quase de menina, da Sophia Vieira que lhe deu vida numa doce interpretação de um texto gravado para o lançamento do livro, tal como não me liberto das imagens tranquilas das fotos da Bárbara Carvalhal captadas na praia da Nazaré (a que escolhi para capa do livro Evo e outras que publico aqui hoje), que acabo por indubitavelmente as associar à ideia por mim arquitectada da personagem "Anita". E como num blog podemos ir mais além da palavra escrita de um livro, deixo-vos com um dos textos de "Anita", rodeado de sons e imagens que eu escolho para voar liberta de tudo, num todo que por fim se encontra em evo.








ouvir aqui a personagem "Anita" interpretação de Sophia Vieira


Ser Feliz.
Desde sempre é o meu desejo, quando fecho os olhos depois de soprar as velas do bolo de aniversário.
Ser Feliz.
Ao passar a meia-noite de final do ano, o momento tolo em que, por um breve segundo, achamos que tudo vai ser perfeito.
Ser Feliz.
Acredito que a Felicidade é constituída apenas por breves momentos.
Se a ambição mais secreta de todas as pessoas é serem verdadeiramente felizes, então cabe a cada um de nós sabermos reconhecer cada uma das oportunidades que nos é dada, aproveitá-la e apreciar intensa e demoradamente.


Podem ser momentos simples, como ver o sol espelhado no mar, sentindo o aroma intenso da maresia a impregnar-nos a alma, com o som das ondas a rebentar nas rochas, e sentados na falésia soprar bolinhas de sabão que o vento leva até à praia.
Passar num jardim com o sistema de rega avariado, não resistir à criança que há em nós, descalçar as sandálias, saltaricar de braços abertos pisando a relva molhada, e ser suavemente aspergida enquanto, por um breve segundo, se avista, por entre a bruma produzida pelo gotejar compassado, a inextinguível sedução do arco-íris...
Pode ser um luxuriante espectáculo de fogo-de-artifício numa quente noite de Verão.
Numa manhã fria de Inverno entre o duche e a correria para sair de casa a horas, ao pendurar, como todos os dias das nossas vidas, a toalha húmida no lavatório, damo-nos conta que os passarinhos estão a cantar e sorrimos com a ideia da Primavera estar prestes a chegar... também de alguém que passa todos os dias por baixo da janela e que assobia tão bem – pena que seja um hábito em desuso, é tão agradável!
O cheirinho a terra molhada durante uma súbita primeira chuvada; pisar as folhas estaladiças caídas no Outono; um soalho acabadinho de encerar; o odor forte da gasolina... claro, esta é a minha visão, a memória dos meus sentidos, as minhas mais queridas recordações.
Sei que muito boa gente odeia o cheiro a gasolina, ou quem em criança teve penosamente de encerar a casa de família de joelhos, não suportará sequer a ideia de um soalho de madeira sem verniz, tal como eu odeio gatos... mas essas são outras histórias.
Estes breves instantes são porventura os mais ternurentos do nosso dia, mas vivemos tão intensamente nesta azáfama desenfreada que nem os apreciamos devidamente. Desaprendemos simplesmente a reservar tempo, o precioso tempo do nosso corrido dia, para um sorriso da alma. Quem não suspirou já por um dia ter tão-somente 24 horas?


Deve ser por eu ainda acreditar no Pai Natal que consigo parar e acompanhar o voo de um bando de andorinhas que, quando volteiam no céu e apanham o Sol no ângulo certo, irradiam um tom prateado no seu voar, parecendo num ápice que se irão transformar em fadas madrinhas.


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