terça-feira, 12 de abril de 2011

Mesinha de Cabeceira #9

de 12 abril 2011



Hoje trago: «O Estranho Caso de um Cão Morto» de Mark Haddon






Ora… estamos perante o melhor livro alguma vez escrito sobre autismo! O autor consegue a genialidade de entrar, de proporcionar o desmontar de uma cabeça autista a nossos olhos, os ditos “normais”, vista de dentro – jamais nos poderia descrever de forma tão lúcida se não fizesse do jovem autista Christopher de 15 anos o narrador! Esta é, do meu ponto de vista, a chave de sucesso deste livro. Brilhante Mark Haddon! A própria concepção e apresentação do livro é original: os capítulos não estão numerados naturalmente são todos números primos, ou seja começa no dois (2, 3, 5, 7,11,13…) e acabem no 233. Tem desenhos, esquemas, algoritmos - como se fosse um livro de apontamentos do Christopher. Deixar-nos embalar pelo raciocínio vertiginoso de um autista, como vê a vida, como sente cada momento, os medos e as fobias, as preferências e as incoerências que ligam o nosso interruptor da compreensão do que é afinal simples, e nos explica o porquê de nos desconcertar com uma naturalidade arrevesada. Esta leitura dos factos na cabeça do Christopher, a personagem/narrador autista é cativante.
O "Estranho Caso do Cão Morto" é um livro premiado, é um best-seller, um dos mais vendidos da década - vendeu mais de 2 milhões de cópias e é o único livro que faz frente ao estrondoso sucesso do escritor Dan Brown. E... é simplesmente um livro de apontamentos de um miúdo autista!!


J V – Ana, também tu escreveste um livro que abordas o mesmo tema no teu romance: “Autista, quem…? Eu?” Se na tua opinião, como acabaste de dizer, colocar na pele do narrador o jovem autista é a solução perfeita, então qual foi a tua solução no teu livro?
A M – Eu coloquei na pele do narrador o Xavier, o baby-sitter do menino autista. A fórmula que usei é simples – o Xavier um bom rapaz, estudante de música, queria ganhar uns trocados e aceitou ser o baby-sitter do sobrinho de um amigo. Não sabia o que era autismo, mas dispôs-se aprender. Ora nessa caminhada da personagem/narrador da estranheza à procura pela compreensão do Xico, aquele menino ao mesmo tempo encantador e bizarro, faz com que o Xavier como que dê a mão ao leitor e o leve na descoberta do que realmente vem a ser o autismo. À justa medida que o Xavier vai entendendo e se apaixonando pelo mundo do Xico, o leitor vai-se entusiasmado e sem se dar conta entende o autismo.
J V – Então podemos dizer que esse é o segredo do sucesso deste teu livro? Ser um romance que além de lúdico é educativo? Porque já é um livro com algum tempo e sei que continua a ser falado e comprado…
A M – É verdade, João Vítor, este romance já vai para 5 anos que foi lançado e continua a ser procurado, comentado e usado como base para diversos trabalhos de estudantes deste país. Deixa-me muito orgulhosa, este percurso que este meu livro tem feito. Sabes que há dias um escritor meu amigo me disse a propósito que tirando os grandes nomes, um livro tem vida curta em Portugal. Primeira edição e desaparece das bancas, quanto muito existe uma segunda edição. Mas um livro que subsiste 5 anos, com o historial bonito que este tem feito e vai ter agora a 3ª edição, ainda para mais requisitado por uma nova editora uma vez que a que o editou faliu e deveria ter ditado também a morte do livro, é um feito de que me devo honrar muito! E é real, tenho mesmo muito orgulho a cada leitor que me procura para me contar há quanto tempo leu o livro e o que aprendeu com as minhas palavras. Isto sim tem para mim um valor que não há palavras!!
J V – E deve ser compensatório este trabalho em prol do autismo! Nós vamos continuar a consciencializar aqui na Marinhais FM ao longo de todo o mês de Abril!



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