terça-feira, 8 de abril de 2014

Dar voz ao Xico

A personagem Xico do meu livro AUTISTA, QUEM...? EU? já não me pertence, tal como nenhuma outra após voarem e saírem das minhas mãos.
Mas com o Xico foi diferente. O núcleo base das personagens, Xavier, Gui, Lena e Zé João em torno deste menino de 13 anos com o seu cão Atchim, serviram o meu propósito inicial de, não só empatizar com a (chamemos-lhe) comunidade autista, como de uma forma mais arrojada ter almejado que este livro ajudasse a entender esta síndrome para o público em geral, algo que como mãe sentia a necessidade e que esta comunidade me pedia incessantemente que o fizesse, escrevendo. Saiu-me melhor que o esperado!, e estas personagens, a forma como as desenhei neste livro, dizem-me os leitores, ano após ano, serviram (e ainda servem) de guia, deram a mão a quem me lê, para um melhor entendimento do que é o autismo. 
Dos muitos recursos que usei, recordo com muito carinho um caderninho onde apontei frases, ditos, temores e fascinações dos vários meninos autistas que conhecia e que todas as mães e pais prontamente me forneceram de bom grado, que ajudaram posteriormente a colorir a personagem Xico com um mix de tantos meninos a cujos pais gostei de fazer essa singela homenagem. Cada um sabe onde está a sua criança - Existe mesmo um menino que diz: "a casinha do 24" ou então a desconcertante pergunta se a imagem da Nossa Senhora de Fátima tinha saído no MacDonald's, realmente aconteceu. E na minha casa - sim, este hilário dito, já o referi várias vezes, foi coisinha da cabeça do meu Pedro. 
Muitos episódios que relato no livro realmente inventei-os, provoquei as emoções de cada leitor propositadamente, mas aquele colorido, por mais que eu criasse, não seria tão genuíno como usando o material que os nossos filhos produzem em abundância a cada dia: a forma como um autista percepciona a vida é tão ao lado, que nos custa pensar dessa forma tão simples... é terrível percebermos como complicamos tanto a vida quando vivemos com uma pessoa autista, e quem como eu, consegue rir-se de si mesmo - coisa que faço com mais regularidade do que penso ser normal - tem aquele vislumbre que o sentido da vida é algo bem irónico e prosaico. 
Neste livro que ando a escrever, a continuação do AUTISTA, QUEM...? EU?, as mesmas personagens, mas 5 anos depois, vai colocar o Xico com 18 anos. Ora se naquele tempo em que desenhei o Xico, só tinha acesso a algumas famílias com crianças autistas, hoje e pela mão das redes sociais, é interessante ver como de uma forma ou de outra todos nos conhecemos. E a ideia para o meu novo caderninho assume um contorno muito mais globalizante. Todos nós pais temos consciência que rimos do inimaginável para os outros pais, e não é por termos um sentido de humor retorcido, se não pelo caricato de momentos que os nossos putos terrivelmente sinceros e literais imprimem na sua peculiar forma de estar, ser e ver a vida. 
Então pensei... E se...? (sorriso) 
O que vos proponho, queridos leitores é, dar voz ao Xico! Caso queiram partilhar comigo frases, ditos ou feitos, temores e estereotipias dos seus filhos, enviem-me por mensagem, por email, por sms, enfim, mandem-me por escrito que vou armazenar e salpicar ou temperar situações no livro. Terei muito gosto em colorir as minhas personagens com recortes de momentos de pessoas reais. Dizem e fazem a cada momento observações que nos deixam com aquela perplexidade de quem ainda se deixa espantar. Ainda hoje o meu filho me dizia a propósito de uma ida ao Oceanário que irá fazer: "Ó Mãeeeeee, eu já lá fui taaaaantas vezes e os peixinhos são sempre os mesmos!!!"
E não se prendam apenas as famílias dos rapazes. Falei no plural porque no livro 2 teremos uma novidade que agora vos revelo: Uma Aspie também de 18 anos pela qual ando apaixonada e espero conseguir escrevê-la da mesma forma apaixonante com que a desenhei na minha mente!!! 
Este livro 2 há muito prometido, está mentalmente escrito e tenho tido uma imensa dificuldade ao longo dos anos em pô-lo no papel - ou no disco rígido. A minha fase de mãe de jovem autista de 18 anos foi demasiado pesada para conseguir a leveza para escrever sobre o tema. Hoje já sinto o distanciamento necessário para me sair das mãos como o quero. Até porque no Autista 3 o Xico terá 30 anos e gostaria de o escrever ainda antes do meu filho chegar a essa idade... 
Eu vou escrever esta trilogia como delineei o inicial esquisso mental: está no tempo da Mãe fechar o luto em vida que fez da fase dos 18 anos do Pedro para a escritora poder avançar com outra história, agora é a vez do Xico. 



2 comentários:

Puzzle Carinhoso disse...

Terás com certeza as palavras certas para escrever este 2.º volume que tanto ansiamos ;) Não preciso de dizer... mas já sabes que podes contar comigo e... com uma reguila de 7 anos... <3

Puzzle Carinhoso disse...

Terás com certeza as palavras certas para escrever este 2.º volume que tanto ansiamos ;) Não preciso de dizer... mas já sabes que podes contar comigo e... com uma reguila de 7 anos... <3

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